8 de setembro de 2008

Lenda de Freixo de espada à cinta



Como sabemos, o nosso Rei D. Dinis nunca se entendeu muito bem com o seu filho, o príncipe D. Afonso.
Soube-se na Corte que D. Afonso tinha armado umas zaragatas para os lados de Bragança, já muito pertinho da fronteira espanhola e D. Dinis lá se meteu ao caminho, com os seus melhores cavaleiros para "castigar os prevaricadores e salvar os inocentes".
Nesta altura, D. Dinis estava mesmo zangado com o filho pois, fazia-lhe todas as vontades, umas vezes porque a el Rei, lhe apetecia, outras porque a Rainha D. Isabel, sua esposa, lhe pedia.
Já decorria o caminho de regresso quando passaram por um terreno onde estava um freixo, plantado à beira do caminho, que fazia uma sombra enorme, acolhedora. O Rei achou aquele lugar tão agradável e tão cheio de paz que mandou os seus cavaleiros montarem acampamento um pouco mais adiante, aproximou-se da enorme árvore, tirou a espada e pendurou-a nos ramos, junto com o cinto.
Sentia o corpo cansado de tanta cavalgada e tanta luta, por isso, estendeu-se no chão espreguiçando-se, absorveu uma golfada de ar puro e, encostando a cabeça ao tronco do freixo, adormeceu.

Segundo conta a lenda, o rei começou a sonhar e, nesse sonho, apareceu-lhe um velho de longas barbas brancas que trazia à cintura a sua própria espada.
O Rei surpreendido, perguntou ao ancião quem era ele e o que pretendia. E, com uma voz profunda e estranha que parecia vir do fundo de uma caverna, ele respondeu:
- Sou o espírito desse freixo a que te encostaste. Estava encantado desde que aqui morri mas tu, quebraste o encantamento porque és rei e penduraste a tua espada no meu tronco, por isso, posso viver por alguns momentos...
- Mas, afinal, ainda não me dissestes quem sois?
- Sou um velho rei visigodo e também conquistei terras e dominei povos. Um dia, adormeci à sombra deste mesmo freixo e os meus inimigos, aproveitando a ocasião, mataram-me. Mas tu, podes estar descansado porque, a ti, nada te acontecerá.
- Que sabeis vós da minha vida, bom Rei?
- Sei tudo. Até sei o modo como encontrarás a felicidade entre ti, a Rainha Isabel e o vosso filho.
D. Dinis que não era conhecido por ter bom feitio, respondeu logo que a Rainha estava sempre do lado do filho e contra ele.
- Ela é uma óptima mãe, uma excelente esposa e, em grande parte, és tu o culpado das coisas que acontecem. Deves dar mais ouvidos à Rainha.
- Está bem, darei mais atenção à rainha. Mas então, o que hei-de fazer com o meu filho?
- Escuta Dinis, escuta com atenção porque é segredo...
E, diz a lenda, que o ancião fez com que o Rei o ouvisse, sem palavras, sem mexer os lábios, só com o pensamento.
- Oh! Mas isso é uma ideia perfeita! Como é que eu ainda não tinha pensado nisso?
E com os seus impulsos habituais (até em sonho) tentou erguer-se e nem ligou mais à voz que lhe dizia:
- Espera Dinis... Falta ouvires o resto... senão ficará tudo na mesma.
Mas já era tarde. Com a sua excitação acordou e viu-se de novo, sozinho, junto do freixo.
Olhou a árvore atentamente, e pensou:
- Meu Deus! Como aquele rei visigodo era parecido com este freixo. Parecia o próprio freixo de espada à cinta.
E, a pouco e pouco, de boca em boca e pelo país fora até que, logicamente, pela tradição, aquela zona passou a chamar-se:
Freixo de Espada à Cinta.
E tudo se passou como no sonho. D. Dinis conseguiu tréguas com o filho, durante algum tempo mas a guerra entre os dois voltou a acender-se.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei desta Lenda e dos outros artigos...