14 de agosto de 2009

Ailuromancia



Pois é verdade, a ailuromancia não é mais do que o conjunto de presságios relativos aos gatos.
Diz o provérbio que, de noite, todos os gatos são pardos e há quem pense que o surgir de um gato pardo no meio da noite é muito bom augúrio para a pessoa que o vê.
Segundo aquilo que se julga saber há 40 ou 45 milhões de anos aproximadamente, durante o período chamado Eoceno - em que tem lugar, entre outras coisas, a separação da América do Norte da América do Sul, devido ao afundamento da América Central, que provavelmente ocorreu devido à formação de barreiras no mar, ilhas, bancos de coral, ao desenvolvimento de muitas espécies novas de mamíferos - apareceram os miácidos. Estes pequenos carnívoros viriam a ser os longínquos antepassados dos ursos. lobos, hienas, doninhas, toupeiras... e dos gatos!
Temos que pôr a nossa imaginação a funcionar para conseguir ver em animais tão diferentes, um antepassado comum que pode ser considerado o antepassado de todos os carnívoros.
Os apaixonados incondicionais dos gatos domésticos, existentes em todo o planeta (em 1990 contavam-se mais de 400 milhões no mundo) têm uma certa dificuldade em pôr o seu gato ao mesmo nível, por exemplo, da hiena, animal este que não desperta muita simpatia entre os homens.

A domesticação do gato continua a ser um mistério. Não há nenhuma prova das razões que poderão ter levado o gato selvagem a aproximar-se do homem ou o homem a querer domesticá-lo. Mas, desde há 12 mil anos que o gato e o homem gostam um do outro. Pensa-se que, em meados do século XVIII antes da nossa era, mesmo antes do novo Império do Egipto, foi escolhida uma gata para representar a deusa Bastet, divindade que presidia aos nascimentos e que, até então, tinha sido representada por uma leoa. No entanto, existia também outra deusa, a temida Skehmet, cujo nome significava "a força", divindade guerreira e destruidora, que semeava a morte à sua passagem, segundo as crenças egípcias e que também era representada por uma leoa. Sem dúvida que os egípcios escolheram a gata para representar Bastet e para a poderem distinguir de Sekhmet. Há representações da primeira com corpo de mulher e cabeça de gato, ou de uma gata de aparência esguia de uma espécie chamada Felis silvestris libyca ou gato africano. Bastet era musical, alegre e fecunda portanto uma divindade bonita e boa.

Embora haja a possibilidade de que todas as espécies de gatos conhecidas nos dias de hoje tenham um antepassado comum, o gato africano que inspirou o povo egípcio, parece que estes pequenos felinos apareceram na Europa muito mais tarde. Pensa-se que tenha sido no início da Idade Média que o gato selvagem irrompesse na Europa vindo do Norte de África e, tanto foi considerado um animal benéfico e protector, como a encarnação da sombra, das forças do mal ou um animal diabólico.
Aos nossos antepassados, este animal não era considerado nem bonito nem familiar pois, caçava de noite, tal como o mocho, e gostava das mesmas presas que esta ave de rapina, daí muita gente ter visto no gato um seguidor do Diabo. Foi assim, muito fácil imaginar que o gato tinha poderes benéficos ou maléficos, consoante a interpretação que se quiser dar-lhe.

Surgiu então o nascimento da ailuromancia, ou seja, a ciência dos presságios relacionados com os gatos, alguns dos quais remontam à mais longínqua Antiguidade. Vejamos vários exemplos que chegaram até aos nossos dias, alguns dos quais continuam muito arreigados no espírito dos nossos contemporâneos, embora hoje os releguemos para a classe das superstições.
Há quem pense que um gato preto que se atravessa de repente no nosso caminho, estrada ou rua, irá anunciar uma morte próxima ou qualquer desgraça, ou a do gato que passa a pata por debaixo das orelhas depois de a ter lambido, para se limpar será um sinal de chuva.
Mas também há superstições que não são tão conhecidas:
Por exemplo, quando um gato que não o conhece o segue, evidentemente, sem que o tenha chamado, diz-se que é um sinal de boa sorte ou inclusive de uma entrada inesperada de dinheiro.
O mesmo gato preto, que se considera um mau augúrio se passar à nossa frente, é um presságio muito bom quando entra inesperadamente numa casa. Neste caso, é mensageiro de felicidade e de prosperidade para a família que vive nessa casa. Ver um sinal cinzento ou pardo é sinal de sorte.
Tendo o gato um instinto que o predispõe a ser especialmente receptivo às variações das pressões atmosféricas e às mudanças de tempo, existem no mundo inteiro muitos presságios meteorológicos relativos aos gatos, parecidos com os da pata por detrás da orelha. Na Europa, nos Estados Unidos, na China e na Rússia, por exemplo, acredita-se que se observarmos um gato a limpar-se, ao anoitecer, junto à lareira, se pode prever o tempo que irá fazer no dia seguinte....

1 comentário:

Célia Almada disse...

Que lindo casal...
Saudade Gabriel...