26 de novembro de 2009

4º Trabalho - O Javali de Erimantea e o signo de Capricórnio

A força de Hércules já está mais do que demonstrada. Todos sabemos que era dotado de uma potência muscular sobre-humana. A tal ponto que hoje em dia dizemos "forte como um Hércules".
Porém, esta força física não é nada sem uma força muito mais vital e essencial que a mova e a guie, isto é, a força espiritual que confere o poder verdadeiro. Como veremos, esta força interior é o objecto da busca do quarto trabalho de Hércules, cuja lenda mítica contém, evidentemente de forma simbólica, as zonas mais obscuras mas também as mais luminosas do signo de Capricórnio, com o qual está em analogia.
A julgar pela sua lenda, podemos afirmar que a vida de Hércules não foi precisamente um mar de rosas. Visto que não só teve doze trabalhos para cumprir - desafio que lhe tinha feito o seu irmão Euristeu, o qual, por instigação de Hera, tinha usurpado o trono de Micenas -, mas, também, o seu percurso esteve cheio de obstáculos e de lutas intermináveis. No entanto, por mais que o seu destino fosse difícil de suportar e apesar de o nosso mítico herói estar marcado por ele desde o seu nascimento, o mesmo destino conduziu-o à glória e à realização de si mesmo. Enquanto Euristeu aparece como um ser sem envergadura, esmagado pelo peso de um destino divino superior às suas forças, que se sente indigno do papel que lhe compete representar e que faz todo o possível para afastar Hércules tal o medo que lhe tem.
Antes de capturar vivo o javali selvagem, gigantesco e monstruoso, cujo covil se encontrava no sopé da montanha Erimantea - esta montanha situada em Arcádia que hoje se chama Olenos -, Hércules discutiu com um salteador de estrada chamado Sauros e depois teve que enfrentar os Centauros. Viu-se mesmo obrigado a matar uns quantos para defender a sua vida. Por último, partiu em busca do famoso javali que semeava o terror nas costas nevadas da montanha Erimantea e pelo vale limítrofe, atravessado por um rio com o mesmo nome. Sempre segundo a lenda, este nome era o de um filho de Apolo, que Afrodite, a maravilhosa deusa do amor, tinha deixado cego porque a tinha surpreendido nua enquanto se banhava. Louco de raiva e sedento de vingança, Apolo tinha-se transformado em javali para matar Adónis, o amante de Afrodite. Capturar vivo e sem ferir este javali gigante, que devastava a região da montanha e do rio Erimantea, não era nada fácil. Para consegui-lo, Hércules utilizou mais a sua audácia do que a sua força. De maneira que, com gritos de animal, atraiu-o a um profundo aguadeiro que encheu de neve para o imobilizar antes de o montar, dominar com as suas mãos nuas e acorrentá-lo ou, mais exactamente, amarrá-lo. Depois, com o javali sobre os ombros, foi até Micenas, triunfante, enquanto Euristeu, num ataque de pânico ao ver o monstro, se escondeu dentro de um tonel.

Interpretação do quarto trabalho e analogias com o signo de Capricórnio
Para compreender o significado simbólico da lenda mítica grega que nos é contada no quarto trabalho de Hércules e as suas analogias com o signo de Capricórnio, devemos salientar, em primeiro lugar, que este signo, segundo a mitologia tradicional, dentro de um contexto do todo coerente que forma o Zodíaco, considera-se o Iniciador, isto é, o que inicia o mundo no Conhecimento e na Sabedoria. Como já vimos a região de Erimantea, onde o javali semeava o terror, tem o nome do filho de Apolo. Ora, literalmente, este nome significa "profecia ou escolha por sorteio". O que é uma profecia por sorteio senão uma adivinhação, uma mancia que os Gregos, e depois deles os Romanos, utilizavam para designar o homem a quem confiavam uma missão, a quem davam um título honorífico ou faziam desempenhar um determinado papel? Consultando a "sorte", dirigiam-se aos deuses que designavam o eleito.
É, pois, no país da escolha tomada ou da profecia revelada por sorteio que o javali semeia o terror. Porém, não devemos esquecer que, a acreditarmos na história da montanha e do rio Erimantea, ao princípio este javali não era outro senão Apolo, a quem chamavam o destruidor, o qual tinha adoptado essa forma para vingar o seu filho e matar Adónis, o amante de Afrodite. Na Grécia antiga, o javali simbolizava tanto a coragem e a força pura como as forças fecundadoras ou destruidoras, consoante o caso. Este era o atributo de Deméter, a deusa maternal da Terra, filha de Cronos-Saturno, regente do signo de Capricórnio. Além disso, o javali é um animal lunar, pelas suas presas em forma de meia lua, e solitário, como os seus costumes indicam. Neste caso encontramo-nos em relação com o eixo Lua-Saturno do Zodíaco, ou seja, no signo de Caranguejo, cujo regente é a Lua, oposto do signo de Capricórnio, cujo regente é Saturno.. Com efeito, o javali, animal lunar, tem fama dos estragos que pode causar nas plantações. Mas também se sabe que é um animal solitário.
Assim, tanto representa a loucura destruidora lunar como a solidão, o isolamento, as figuras saturninas do asceta ou do eremita do bosque que têm a ver com o sign de Capricórnio. Daí poder deduzir-se que a loucura lunar dominada pode transformar-se em sabedoria pura, em conhecimento perfeito e, a julgar pela tradição que acredita que o signo de Capricórnio é o iniciador do Zodíaco, em autoridade espiritual. E esta força espiritual é tão impressionante que, quando Eristeu, o usurpador de uma autoridade temporal, a vê viva sobre os ombros de Hércules, representada pelo javali de Erimantea, se esconde num tonel, símbolo da matriz; volta portanto, ao ventre de sua mãe.

2 comentários:

Anónimo disse...

capricornio , no fundo do ceu, que lição a enfrentar ????

20visitar disse...

Penso que, por estar no FC, terá de ir procurar a força interior nas experiências do passado ou, quem sabe, em vidas passadas.