3 de novembro de 2009

2º Trabalho - A Hidra de Lerna e o signo de Balança

Pintura de Gustave Moureau.

O segundo trabalho que foi imposto a Hércules consistia em vencer a Hidra de Lerna, um ser monstruoso com corpo de cão, provido de cinco, seis, sete, oito ou nove cabeças de serpente, consoante os autores que relatam esta lenda mítica. A sua mãe era Equidna, a Víbora, uma mulher também monstruosa, já que o seu corpo não tinha pernas, mas uma cauda de serpente. O seu pai não era outro senão Tifão, demónio nascido de dois ovos que Cronos ofereceu a Gea, a Terra, para se vingar de Zeus, que tinha matado os seus filhos, os Titãs.
Tifão era um ser meio homem meio animal, cujo corpo era provido de duas asas e cujos olhos lançavam chamas. Tinha sido criado por Pítane, a deusa serpente.
De maneira que, com a Hidra de Lerna, Equidna, Tifão e Pítane, encontramo-nos no universo da serpente e de toda a simbologia relacionada com a mesma. Todavia, a Hidra de Lerna foi criada por Hera, da qual provém o nome de Hércules, que por sua vez era irmã e esposa de Zeus. Em todo o caso era uma grande deusa, talvez a maior do Olimpo.
A Hidra mantinha aterrorizada a região do lago de Lerna, famoso pelos sacrifícios e ritos que aí se celebravam, especialmente em honra de Dionísio, deus da vida, do vinho, do êxtase, cuja lenda conta que foi ao lago sem fundo de Lerna até alcançar os infernos e libertar sua mãe, Sémele, das mãos de Hades.
Na região do lago de Lerna também se celebravam os ritos de Deméter a deusa maternal da Terra, já que também foi este lago que Hades utilizou para sequestrar Perséfone e mantê-la encarcerada nos infernos. Tratava-se, pois, de uma região sagrada. Foi o lugar que a Hidra escolheu para sua guarida, pelo que a população vizinha, aterrorizada, deixou de celebrar qualquer rito, e tão-pouco qualquer sacrifício.
Graças aos bons conselhos de Ateneia, deusa guerreira que os Romanos chamavam Minerva, Hércules encontrou facilmente a guarida de Hidra, de quem se dizia que o seu veneno tinha a fama de ser tão potente que o simples facto de respirar o seu hálito bastava para morrer instantaneamente.
Seguindo sempre os conselhos de Ateneia, a sua fada-madrinha como lhe poderíamos chamar, Hércules fez sair o monstro do seu covil, disparando-lhe flechas a arder. Uma vez asfixiada a Hidra, já não tinha que recear o seu hálito e pôde aproximar-se dela. No entanto, como no trabalho anterior, a sua clava não lhe serviu de nada para vencer o animal fantástico. Com efeito, sempre que acertava numa das cabeças da serpente, esta voltava a formar-se imediatamente, por vezes até se multiplicava. De modo que, segundo alguns autores, a lenda conta que chegou a ter 100, 1000 e até mesmo 10.000 cabeças. Então Yolao, sobrinho de Hércules, que o acompanhava nos seus trabalhos, fez uma fogueira gigante e, com a ajuda das brasas e dos archotes, cauterizou as feridas das cabeças destruídas que se reproduziam infinitamente.
Assim, com uma podadeira de ouro, pôde decapitar a cabeça vital e imortal da Hidra - que dava vida a todas as outras cabeças - e enterrá-la viva. Depois, introduziu as pontas das flechas nas vísceras do monstro e no monte das serpentes sem vida para as impregnar com o veneno da Hidra. A partir daquele dia, as flechas de Hércules converteram-se em armas inevitavelmente mortais.

Interpretação do segundo trabalho e as analogias com o signo de Balança
Revelar as analogias entre esta luta titânica de Hércules contra o monstro com corpo de cão e cabeças de serpente e tudo o que representa o signo de Balança pode parecer surpreendente.
Mas devemos pensar que a lenda dos Doze Trabalhos de Hércules ilustra as adversidades que a alma humana tem de enfrentar para atingir uma certa paz, uma harmonia, uma entrega total de todas as paixões e de todos os demónios que a atormentam. Por isso, seguindo o périplo de Hércules, mantemo-nos, ao mesmo tempo, no interior do Zodíaco, um verdadeiro percurso iniciático.
Mas quem é a Hidra em relação ao signo de Balança? Sabemos que o nativo deste signo aspira ao equilíbrio, à harmonia, à serenidade e à verdadeira justiça. Também sabemos que tem um sentido inato do belo, da harmonia das formas e das cores. Trata-se pois, de um ser com graça e encantador, justo e recto. Mas isto é, de alguma forma, a ponta do iceberg, a aparência que adopta o nativo deste signo, pelo menos enquanto não integrou nele as qualidades do seu signo ou não as alcançou. Visto que o nativo Balança cuida da sua aparência, tem muito apego pelas formas e pelos princípios. Mas, ao fazê-lo, nega, rejeita ou afasta o que há nele de bruto ou de espontâneo. À força de se prender às formas e aos princípios a todo o custo, de nunca querer tomar partido, nem conciliar, nem romper, acaba por viver na indecisão e por se deixar levar pelas circunstâncias ou influenciar pelos outros. Ao desenvolver excessivamente as qualidades femininas de encanto, refinamento e compromisso, inibe as qualidades masculinas de autoridade, por vezes despótica; já que o nativo de Balança, devido às analogias que existem entre o seu signo e os símbolos da justiça, prefere quase sempre, pegar a justiça pela mão do que impô-la aos outros, embora, aparentemente, se mostre sempre compreensivo, delicado e tolerante. Na realidade, a intransigência domina-o, mas está dissimulada. Por outras palavras, as noções de poder, despotismo, intransigência, quase sempre negadas neste nativo, proliferam contra a sua vontade, tal como se multiplicam as cabeças da serpente da Hidra com o seu veneno mortal. É o que acontece com os maus pensamentos quando se reproduzem incessantemente se se tentarem eliminar superficial e exteriormente. Para que deixem de agir, é necessário cortar a cabeça vital e enterrá-la para sempre. Foi o que Hércules fez para acabar com a Hidra. Então, poderá utilizar o seu veneno, não para matar ou destruir às cegas, mas com justiça e com conhecimento de causa.

2 comentários:

AugustoCrowley disse...

Uma analogia bem interessante mesmo,no inicio ate nao achava que tivessem semelhança, mas foi excelente,belo texto.

20visitar disse...

Obrigada. São comentários assim, e o facto devirmos a descobrir que alguém nos lê que nos dá coragem para continuar.