31 de março de 2008

A minha profissão

Desde muito cedo que a minha curiosidade se virou para coisas muito variadas e, de certo modo, antagónicas que vão desde o prazer que sinto em observar a Natureza, os animais e as pessoas, até à astrologia e ao tarot.
Tinha, em casa, um pai que profissionalmente era um irrealizado. Sempre tinha sonhado qualquer profissão que o fizesse estar em contacto com a terra, o seu sonho de menino era Agronomia ou Veterinária. Filho de gente que vivia com certas dificuldades monetárias, muito cedo foi alertado para o facto da sua vida de estudo não poder ser muito prolongada, pois era necessário que começasse a trabalhar o mais cedo possível para que a família fosse ajudada. E então, que contradição, ele que gostava tanto de estar em contacto com a terra, tirou aquilo a que se chamava Curso Comercial e foi arranjar emprego numa empresa que o obrigava, constantemente, a estar em contacto com navios e mar.
Quando comecei a já ter idade para dar longas passeatas, o meu pai levava-me para aquilo que gostava: longos passeios pelo campo, feira da agricultura em Santarém, festa do campino em Vila Franca, dias inteiros passados no Jardim Zoológico e, aquilo que o tinha atraído a ele, começou-me também a atrair a mim mas, com uma ligeira diferença, é que eu, além de gostar de observar os animais no seu dia a dia, as diferentes folhas e flores que encontrávamos pelo caminho, também perdia a noção do tempo quando me punha a observar as pessoas, principalmente crianças.
O meu tempo de estudante foi um tempo normal, sem altos nem baixos e, quando cheguei ao fim do liceu, havia tanta coisa que eu queria que não sabia o que escolher e então, resolvi fazer a aptidão a medicina, e entrei mas, ao fim de uns tempos de lá estar, desisti porque a anatomia não se entendia muito bem comigo, ou eu com ela e assim, saltei para Biologia. Entretanto, resolvi casar.
Estudar e estar casada com um homem que trabalhava muitas horas para compensar o facto de só haver um ordenado a entrar em casa, feria muito a minha sensibilidade e eu sentia que era um peso enorme, sentia que estava a proporcionar um grande desconforto na minha família recente, desconforto esse que só podia e tinha que ser resolvido por mim.
Havia certas coisas de que eu não tinha dúvidas. Sabia que não queria ser empregada de escritório como os meus pais pois, não queria viver os problemas que sempre tinha ouvido contar à hora de jantar, quando nos reuníamos, sabia que queria ter um curso mas que esse curso tinha que ser tirado rapidamente para poder ajudar o meu marido, sabia que gostava de crianças e então, surgiu o mal menor, tirar o Curso do Magistério Primário, e tornar-me professora do 1º ciclo (como agora se chama).
Hoje, já aposentada, depois de 33 anos de profissão, tendo, nos últimos 14 trabalhado com crianças com dificuldades de aprendizagem (porque entretanto, fiz a especialização em deficiência mental e motora) continuo a adorar crianças mas, sempre detestei ser professora nos moldes que me eram exigidos pela legislação.
Neste momento, do modo como as coisas estão, sinto-me muito feliz por já estar aposentada.

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