29 de novembro de 2009

5º Trabalho - Os estábulos do rei Augias e o signo de Virgem

Agora, surpreenderemos o nosso herói a cumprir um caminho que não tem nada de excepcional, mas que traz uma luz sobre o nosso comportamento face aos alimentos terrestres e às riquezas da Terra, bem como sobre a necessidade de não estragar os recursos muitas vezes abundantes da nossa mãe natureza e pôr ordem acabando com os abusos e os excessos. Tudo isso pode não ser extraordinário, mas revela-se sem dúvida alguma primordial.
Em nosso entender, trata-se de assuntos e de preocupações que são totalmente actuais, num momento em que a poluição, devida a uma exploração demasiado intensiva das riquezas da Terra, faz estragos no nosso planeta e ameaça seriamente o seu ecossistema.
Em Elis, no Peloponeso, península montanhosa do sul da Grécia, vivia um rei chamado Augias, cujo nome pode traduzir-se por "raio resplandecente" e que era considerado normalmente como o filho de Hélios, o Sol, e de Hirmine, nome que significa "o zumbido do enxame".
Filho do Sol e das abelhas, Augias só podia ser abençoado pelos deuses. E, com efeito, tinha herdado de seu pai os maiores rebanhos de gado da Terra. E mais ainda, os seus animais, que nunca contraíam nenhuma doença, eram tão fecundos que se reproduziam sem cessar, e quase que só davam à luz fêmeas. Por outro lado, possuía trezentos touros negros e duzentos touros reprodutores. Preservava igualmente doze touros brancos dedicados a seu pai Hélios, mas que também desempenhavam o papel de guardiães do seu imenso rebanho contra os animais ferozes, que cresciam nas colinas vizinhas.
No entanto, desde que era dono destes rebanhos, que não paravam de aumentar, Augias nunca se tinha ocupado em retirar a porcaria que se ia acumulando perigosamente no interior dos seus estábulos.
E mais ainda, as terras do vale de Elis estavam cobertas por uma camada tão espessa de esterco, que já não conseguiam ser lavradas e não se conseguia semear nada nelas.
Este magnífico vale não só empestava, como se tinha convertido em estéril devido à negligência de Augias.
Hércules, enviado por Euristeu ao reino de Augias para acabar com este mau cheiro e tornar de novo, a terra fértil, apareceu diante do rei e comprometeu-se a limpar os seus estábulos num só dia; para isso utilizou tanto a sua inteligência como a sua força. Em primeiro lugar, traçou duas largas brechas nas paredes dos estábulos. Depois, construiu dois valados com árvores e pedras das colinas, fez desviar os dois rios que estavam próximo, cujas águas se lançaram nos estábulos e se precipitaram no vale, arrastando todo o esterco e porcaria amontoados há anos.


Interpretação do quinto trabalho e analogias com o signo de Virgem
Sabemos o muito que os nativos de Virgem se preocupam com a ordem e os detalhes. Mas o que não é tão sabido é que, se se preocupam tanto é porque, à priori, carecem precisamente disso.
O seu sentido dos detalhes converte-se então numa espécie de reflexo compensatório que lhes permite orientar-se, não se perder e, sobretudo, não perder a sua valiosa identidade que tanto lhes importa, que, por outro lado, todavia, ao mesmo tempo duvidam. Por isso, um pouco mais do que as outras pessoas, tendem a calcular, a acumular e a conservar.
Mas, já o sabemos, são especialmente negligentes e desordenados, já que concentrando-se sobre um detalhe em particular - sem dúvida vêem melhor do que qualquer um -, perdem toda a visão geral e perspectiva das coisas. Fixam-se no presente, ali onde se encontram. Só planeiam o futuro com uma preocupação de segurança. Vêem a árvore mas ignoram o bosque. Isto é exactamente o que Augias faz, não se preocupa por saber se o gado causa danos ou estraga o vale do Peloponeso, empestando toda a região.
Não é o que nós próprios estamos a fazer actualmente, tentando sempre produzir mais para obter os máximos lucros para nos proporcionarmos segurança ou satisfação, mas sem nos preocuparmos em preservar o nosso meio natural?
Ao consenti-lo não estamos a fazer com que as nossas terras se tornem estéreis e envenenamos a nossa atmosfera?
Assim, por detrás do trabalho de Hércules, construindo dois valados e desviando os dois rios, num só dia, está uma mensagem ainda mais importante: se vamos colhendo sem dar, a longo prazo, tudo se converte em estéril. Se deixarmos proliferar os bens deste mundo, sem medida, morreremos afogados neles. Visto que o sentido da medida e do excesso também são terrenos de Virgem.
Se isolarmos os princípios naturais, que têm uma função natural, mas que não podem existir fora da cadeia também natural, da qual fazem parte e são um anel, criamos um sistema monstruoso. Não nos iludamos: embora a lenda seja bonita, tentemos imaginar o que seria um vale coberto por uma camada de esterco de vários metros de espessura, invadido pelo gado, reproduzindo-se sem cessar. Para acabar com esta situação sobrenatural existe apenas uma solução: criar uma catástrofe natural.
É exactamente o que empreende Hércules, provocando uma inundação.
De passagem assinale-se que é exactamente o que faz a nossa mãe natureza quando abusamos dela; as catástrofes que ainda hoje vivemos, chamadas naturais ou ecológicas, são muitas vezes chamamentos à ordem e o pôr ordem nas coisas da Terra.

26 de novembro de 2009

4º Trabalho - O Javali de Erimantea e o signo de Capricórnio

A força de Hércules já está mais do que demonstrada. Todos sabemos que era dotado de uma potência muscular sobre-humana. A tal ponto que hoje em dia dizemos "forte como um Hércules".
Porém, esta força física não é nada sem uma força muito mais vital e essencial que a mova e a guie, isto é, a força espiritual que confere o poder verdadeiro. Como veremos, esta força interior é o objecto da busca do quarto trabalho de Hércules, cuja lenda mítica contém, evidentemente de forma simbólica, as zonas mais obscuras mas também as mais luminosas do signo de Capricórnio, com o qual está em analogia.
A julgar pela sua lenda, podemos afirmar que a vida de Hércules não foi precisamente um mar de rosas. Visto que não só teve doze trabalhos para cumprir - desafio que lhe tinha feito o seu irmão Euristeu, o qual, por instigação de Hera, tinha usurpado o trono de Micenas -, mas, também, o seu percurso esteve cheio de obstáculos e de lutas intermináveis. No entanto, por mais que o seu destino fosse difícil de suportar e apesar de o nosso mítico herói estar marcado por ele desde o seu nascimento, o mesmo destino conduziu-o à glória e à realização de si mesmo. Enquanto Euristeu aparece como um ser sem envergadura, esmagado pelo peso de um destino divino superior às suas forças, que se sente indigno do papel que lhe compete representar e que faz todo o possível para afastar Hércules tal o medo que lhe tem.
Antes de capturar vivo o javali selvagem, gigantesco e monstruoso, cujo covil se encontrava no sopé da montanha Erimantea - esta montanha situada em Arcádia que hoje se chama Olenos -, Hércules discutiu com um salteador de estrada chamado Sauros e depois teve que enfrentar os Centauros. Viu-se mesmo obrigado a matar uns quantos para defender a sua vida. Por último, partiu em busca do famoso javali que semeava o terror nas costas nevadas da montanha Erimantea e pelo vale limítrofe, atravessado por um rio com o mesmo nome. Sempre segundo a lenda, este nome era o de um filho de Apolo, que Afrodite, a maravilhosa deusa do amor, tinha deixado cego porque a tinha surpreendido nua enquanto se banhava. Louco de raiva e sedento de vingança, Apolo tinha-se transformado em javali para matar Adónis, o amante de Afrodite. Capturar vivo e sem ferir este javali gigante, que devastava a região da montanha e do rio Erimantea, não era nada fácil. Para consegui-lo, Hércules utilizou mais a sua audácia do que a sua força. De maneira que, com gritos de animal, atraiu-o a um profundo aguadeiro que encheu de neve para o imobilizar antes de o montar, dominar com as suas mãos nuas e acorrentá-lo ou, mais exactamente, amarrá-lo. Depois, com o javali sobre os ombros, foi até Micenas, triunfante, enquanto Euristeu, num ataque de pânico ao ver o monstro, se escondeu dentro de um tonel.

Interpretação do quarto trabalho e analogias com o signo de Capricórnio
Para compreender o significado simbólico da lenda mítica grega que nos é contada no quarto trabalho de Hércules e as suas analogias com o signo de Capricórnio, devemos salientar, em primeiro lugar, que este signo, segundo a mitologia tradicional, dentro de um contexto do todo coerente que forma o Zodíaco, considera-se o Iniciador, isto é, o que inicia o mundo no Conhecimento e na Sabedoria. Como já vimos a região de Erimantea, onde o javali semeava o terror, tem o nome do filho de Apolo. Ora, literalmente, este nome significa "profecia ou escolha por sorteio". O que é uma profecia por sorteio senão uma adivinhação, uma mancia que os Gregos, e depois deles os Romanos, utilizavam para designar o homem a quem confiavam uma missão, a quem davam um título honorífico ou faziam desempenhar um determinado papel? Consultando a "sorte", dirigiam-se aos deuses que designavam o eleito.
É, pois, no país da escolha tomada ou da profecia revelada por sorteio que o javali semeia o terror. Porém, não devemos esquecer que, a acreditarmos na história da montanha e do rio Erimantea, ao princípio este javali não era outro senão Apolo, a quem chamavam o destruidor, o qual tinha adoptado essa forma para vingar o seu filho e matar Adónis, o amante de Afrodite. Na Grécia antiga, o javali simbolizava tanto a coragem e a força pura como as forças fecundadoras ou destruidoras, consoante o caso. Este era o atributo de Deméter, a deusa maternal da Terra, filha de Cronos-Saturno, regente do signo de Capricórnio. Além disso, o javali é um animal lunar, pelas suas presas em forma de meia lua, e solitário, como os seus costumes indicam. Neste caso encontramo-nos em relação com o eixo Lua-Saturno do Zodíaco, ou seja, no signo de Caranguejo, cujo regente é a Lua, oposto do signo de Capricórnio, cujo regente é Saturno.. Com efeito, o javali, animal lunar, tem fama dos estragos que pode causar nas plantações. Mas também se sabe que é um animal solitário.
Assim, tanto representa a loucura destruidora lunar como a solidão, o isolamento, as figuras saturninas do asceta ou do eremita do bosque que têm a ver com o sign de Capricórnio. Daí poder deduzir-se que a loucura lunar dominada pode transformar-se em sabedoria pura, em conhecimento perfeito e, a julgar pela tradição que acredita que o signo de Capricórnio é o iniciador do Zodíaco, em autoridade espiritual. E esta força espiritual é tão impressionante que, quando Eristeu, o usurpador de uma autoridade temporal, a vê viva sobre os ombros de Hércules, representada pelo javali de Erimantea, se esconde num tonel, símbolo da matriz; volta portanto, ao ventre de sua mãe.

10 de novembro de 2009

3º Trabalho - A Corça de Cerinea e o signo de Caranguejo


Depois de ter ganho a firmeza de espírito com o seu primeiro trabalho e a justiça com o segundo, Hércules perseguirá durante um ano uma virtude igualmente grande, simbolizada neste caso por uma corça de unhas de bronze e de cornos de ouro, nos quais o sol brilhava, e cujo corpo era tão grande e maciço que, ao princípio a confundiram com um veado em lugar de uma corça.
No entanto, segundo reza a lenda original do terceiro trabalho imposto a Hércules, tratava-se de uma corça, a mesma que foi dedicada à deusa Artemisa, depois desta a ter perseguido até à colina de Cerinea, onde aquela se refugiou.
Com efeito, ao princípio, com outras quatro corças - que Artemisa, a futura Diana caçadora dos Romanos, prendeu ao seu carro -, a protagonista desta história fazia parte de um grupo de cinco, que teve de abandonar para não cair nas mãos da deusa Artemisa-Diana e ser amarrada ao seu carro. Porém, a divindade não renunciou à corça, a qual, finalmente, lhe foi dedicada.
Este facto provocou a ira de Hera, inspiradora dos Doze Trabalhos de Hércules, a quem exigiu então que fosse apanhar a corça de Cerinea sequestrada por Artemisa, sem fazer uso da força. O nosso herói perseguiu-a, pois, durante um ano inteiro, transgredindo assim o tabu, visto que o animal era sagrado porque era dedicado à deusa Artemisa.
Uma lenda anterior à do terceiro trabalho reza que a corça de Artemisa foi, por um tempo, Táigete, uma das Plêiades, ou seja, uma das sete filhas do gigante Atlas, que carregava a Terra aos ombros, e cujas filhas, mais tarde, se converteram nas sete estrelas da constelação das Plêiades. Com efeito, para esconder Táigete - a quem Zeus acossava assiduamente -, Artemisa transformou-a em corça. Então, foi Táigete, reza a lenda que, como agradecimento e depois de ter recobrado a sua forma original de deusa, dedicou a Artemisa esta corça que lhe tinha permitido escapar dos desejos imperiosos de Zeus.
Claro que este episódio tem a sua importância se se quiser compreender o significado simbólico do terceiro trabalho executado por Hércules. Imaginamos que esta corça corria muito depressa. Por isso, Hércules teve grande dificuldade em apanhá-la. Como já especificámos, necessitou pelo menos de um ano para, finalmente, quando a corça se preparava para atravessar um rio e entrar no país lendário e mítico dos sábios Hiperbóreos, a surpreender: esticou o seu arco e atirou-lhe uma seta, cuja ponta penetrou justamente entre o osso e o tendão das duas patas dianteiras. Assim, sem derramar nem uma só gota de sangue, imobilizou-a; visto que, segundo as ordens de Hera, não deveria matá-la nem feri-la. Assim, pôde carregar o animal sobre os seus largos ombros e transportá-lo até Micenas, cidade que se julga ter sido o berço da língua grega, historicamente, entre os séculos XVIII e XV antes da nossa era.

Interpretação do terceiro trabalho e analogias com o signo de Caranguejo
À primeira vista, parece que existem muito poucos pontos em comum entre os mitos e os símbolos presentes neste terceiro trabalho e os que conhecemos e relacionamos com o signo de Caranguejo.
Porém, se observarmos com atenção, trata-se de uma analogia que salta à vista: a lenda do terceiro trabalho conta-nos efectivamente em pormenor o que Hércules fez para capturar a corça sagrada sem a ferir e muito menos matá-la. Atirou-lhe uma seta que atravessou as suas patas dianteiras, entre o tendão e o osso, como é especificado, sem derramar uma única gota de sangue.
Ora, recorde-se que o caranguejo do signo com o mesmo nome vem do grego karkinos, que significava "caranguejo", "câncer", assim como "pinças" e "compasso". Não é o que fazem lembrar as duas longas patas, um compasso? A seta que atravessa as duas patas da corça não evoca o travessão que une as duas pernas do compasso?
No entanto, as duas protagonistas do terceiro trabalho de Hércules são, sobretudo, Táigete, personificada pela própria corça de Cerinea, e Artemisa, a quem o animal foi consagrado.
Quem era Artemisa? Esta deusa grega, cujo nome significava "grande fonte de água", era uma rapariga virgem, muito bela, armada de arco e que passava a maior parte do tempo a caçar veados e humanos. Feroz e colérica, foi comparada à Lua, assim como seu irmão Apolo era a personificação do Sol.
É óbvio que vemos imediatamente uma segunda analogia com o signo de Caranguejo: Artemisa, a deusa a quem foi consagrada a corça de Cirenea, é uma figura da Lua, o astro que rege o signo de Caranguejo.
Quanto a Táigete, cujo nome significa "reprimida durante muito tempo", devemos precisar que Zeus só a amou uma vez e, mais tarde, tomando a forma de uma corça, desapareceu por iniciativa de Artemisa, para poder escapar das repetidas perseguições do deus dos deuses do Olimpo. Todavia, da sua união com Zeus nasceu um filho, Lacedémon, ou o demónio do lago. Então, porque é que esta corça é tão bela e porque é que Hércules a perseguiu durante um ano com a missão de a capturar se a ferir? Porque é, sem dúvida, a mais formosa representação mítica e simbólica da mais bela das mulheres: a Sofia dos Romanos, a Sabedoria.
Com efeito, a corça de Cerinea é consagrada a Artemisa, a Lua, tem cornos de ouro nos quais brilha o Sol, reforçando a força que reside nela, as patas de bronze que a ligam à Terra, a dos bens materiais e a dos desejos terrenos. Possui uma certa inocência, tal como os nativos de caranguejo, visto que Zeus se uniu a ela contra sua vontade.
No entanto, alimentou no seu seio um demónio, o seu filho Lacedémon, o demónio do lago.
Porém, fugiu para o país mítico das origens e, uma vez mais tal como os nativos de Caranguejo, olha para o seu passado, o país da pureza e sabedoria originais.
Sendo assim, depois de ganhar a firmeza de espírito e a justiça, Hércules adquiriu a sabedoria apoderando-se da corça de Cerinea.

3 de novembro de 2009

2º Trabalho - A Hidra de Lerna e o signo de Balança

Pintura de Gustave Moureau.

O segundo trabalho que foi imposto a Hércules consistia em vencer a Hidra de Lerna, um ser monstruoso com corpo de cão, provido de cinco, seis, sete, oito ou nove cabeças de serpente, consoante os autores que relatam esta lenda mítica. A sua mãe era Equidna, a Víbora, uma mulher também monstruosa, já que o seu corpo não tinha pernas, mas uma cauda de serpente. O seu pai não era outro senão Tifão, demónio nascido de dois ovos que Cronos ofereceu a Gea, a Terra, para se vingar de Zeus, que tinha matado os seus filhos, os Titãs.
Tifão era um ser meio homem meio animal, cujo corpo era provido de duas asas e cujos olhos lançavam chamas. Tinha sido criado por Pítane, a deusa serpente.
De maneira que, com a Hidra de Lerna, Equidna, Tifão e Pítane, encontramo-nos no universo da serpente e de toda a simbologia relacionada com a mesma. Todavia, a Hidra de Lerna foi criada por Hera, da qual provém o nome de Hércules, que por sua vez era irmã e esposa de Zeus. Em todo o caso era uma grande deusa, talvez a maior do Olimpo.
A Hidra mantinha aterrorizada a região do lago de Lerna, famoso pelos sacrifícios e ritos que aí se celebravam, especialmente em honra de Dionísio, deus da vida, do vinho, do êxtase, cuja lenda conta que foi ao lago sem fundo de Lerna até alcançar os infernos e libertar sua mãe, Sémele, das mãos de Hades.
Na região do lago de Lerna também se celebravam os ritos de Deméter a deusa maternal da Terra, já que também foi este lago que Hades utilizou para sequestrar Perséfone e mantê-la encarcerada nos infernos. Tratava-se, pois, de uma região sagrada. Foi o lugar que a Hidra escolheu para sua guarida, pelo que a população vizinha, aterrorizada, deixou de celebrar qualquer rito, e tão-pouco qualquer sacrifício.
Graças aos bons conselhos de Ateneia, deusa guerreira que os Romanos chamavam Minerva, Hércules encontrou facilmente a guarida de Hidra, de quem se dizia que o seu veneno tinha a fama de ser tão potente que o simples facto de respirar o seu hálito bastava para morrer instantaneamente.
Seguindo sempre os conselhos de Ateneia, a sua fada-madrinha como lhe poderíamos chamar, Hércules fez sair o monstro do seu covil, disparando-lhe flechas a arder. Uma vez asfixiada a Hidra, já não tinha que recear o seu hálito e pôde aproximar-se dela. No entanto, como no trabalho anterior, a sua clava não lhe serviu de nada para vencer o animal fantástico. Com efeito, sempre que acertava numa das cabeças da serpente, esta voltava a formar-se imediatamente, por vezes até se multiplicava. De modo que, segundo alguns autores, a lenda conta que chegou a ter 100, 1000 e até mesmo 10.000 cabeças. Então Yolao, sobrinho de Hércules, que o acompanhava nos seus trabalhos, fez uma fogueira gigante e, com a ajuda das brasas e dos archotes, cauterizou as feridas das cabeças destruídas que se reproduziam infinitamente.
Assim, com uma podadeira de ouro, pôde decapitar a cabeça vital e imortal da Hidra - que dava vida a todas as outras cabeças - e enterrá-la viva. Depois, introduziu as pontas das flechas nas vísceras do monstro e no monte das serpentes sem vida para as impregnar com o veneno da Hidra. A partir daquele dia, as flechas de Hércules converteram-se em armas inevitavelmente mortais.

Interpretação do segundo trabalho e as analogias com o signo de Balança
Revelar as analogias entre esta luta titânica de Hércules contra o monstro com corpo de cão e cabeças de serpente e tudo o que representa o signo de Balança pode parecer surpreendente.
Mas devemos pensar que a lenda dos Doze Trabalhos de Hércules ilustra as adversidades que a alma humana tem de enfrentar para atingir uma certa paz, uma harmonia, uma entrega total de todas as paixões e de todos os demónios que a atormentam. Por isso, seguindo o périplo de Hércules, mantemo-nos, ao mesmo tempo, no interior do Zodíaco, um verdadeiro percurso iniciático.
Mas quem é a Hidra em relação ao signo de Balança? Sabemos que o nativo deste signo aspira ao equilíbrio, à harmonia, à serenidade e à verdadeira justiça. Também sabemos que tem um sentido inato do belo, da harmonia das formas e das cores. Trata-se pois, de um ser com graça e encantador, justo e recto. Mas isto é, de alguma forma, a ponta do iceberg, a aparência que adopta o nativo deste signo, pelo menos enquanto não integrou nele as qualidades do seu signo ou não as alcançou. Visto que o nativo Balança cuida da sua aparência, tem muito apego pelas formas e pelos princípios. Mas, ao fazê-lo, nega, rejeita ou afasta o que há nele de bruto ou de espontâneo. À força de se prender às formas e aos princípios a todo o custo, de nunca querer tomar partido, nem conciliar, nem romper, acaba por viver na indecisão e por se deixar levar pelas circunstâncias ou influenciar pelos outros. Ao desenvolver excessivamente as qualidades femininas de encanto, refinamento e compromisso, inibe as qualidades masculinas de autoridade, por vezes despótica; já que o nativo de Balança, devido às analogias que existem entre o seu signo e os símbolos da justiça, prefere quase sempre, pegar a justiça pela mão do que impô-la aos outros, embora, aparentemente, se mostre sempre compreensivo, delicado e tolerante. Na realidade, a intransigência domina-o, mas está dissimulada. Por outras palavras, as noções de poder, despotismo, intransigência, quase sempre negadas neste nativo, proliferam contra a sua vontade, tal como se multiplicam as cabeças da serpente da Hidra com o seu veneno mortal. É o que acontece com os maus pensamentos quando se reproduzem incessantemente se se tentarem eliminar superficial e exteriormente. Para que deixem de agir, é necessário cortar a cabeça vital e enterrá-la para sempre. Foi o que Hércules fez para acabar com a Hidra. Então, poderá utilizar o seu veneno, não para matar ou destruir às cegas, mas com justiça e com conhecimento de causa.