Minos, o rei da montanhosa ilha de Creta, que se dizia, por vezes que era filho de Zeus e de Europa e, como tal, um semideus, tinha prometido a Poseidon, o deus do mar, que sacrificaria em seu nome o primeiro ser que aparecesse nas águas. Pegando-lhe na palavra, Poseidon fez surgir das águas do Mediterrâneo um touro milagroso, de tamanha beleza, de uma força ímpar e de tal forma majestoso que Minos ficou maravilhado. Violentando a sua promessa, capturou o touro de Poseidon e escondeu-o nas suas próprias manadas; mas o deus do mar, ao inteirar-se de que Minos estava a traí-lo, enfureceu o touro que ele mesmo tinha criado, e fê-lo tão bem que o animal devastou Creta. Lançando fogo pelo nariz, queimava e destruía as culturas dos campos, as árvores e os frutos dos pomares.
Assinalemos que, segundo outras fontes, este famoso touro não era uma criação de Poseidon, mas a forma que tinha tomado Zeus para sequestrar e seduzir Europa, a mãe de Minos. Finalmente, uma terceira versão sugere que se trata do não menos famoso Minotauro, guardião do labirinto. Com efeito, este monstro com corpo de homem e cabeça de touro é o filho de Pasifae, que não era outra senão a esposa de Minos.
Embora os mitógrafos preferissem a primeira versão desta lenda, nós compreendemos facilmente porque os outros dois touros não lhe são alheios, já que, tanto num caso como noutro, se referem sempre a Minos. Em todo o caso, Hércules teve por missão capturar este touro furioso e devastador, que deitava fogo pelo nariz, cuja selvajaria só era igual à sua força indomável, para devolvê-lo vivo à Grécia.
Conseguiu vencê-lo com as mãos nuas durante um combate mítico e titânico, unicamente com a força dos seus músculos, imobilizando-o pelos chifres. Finalmente, levou-o para a Grécia, carregando-o nos próprios ombros.
Interpretação do sétimo trabalho e analogias com o signo de Touro
A analogia com o signo de Touro é flagrante pelo simples facto de que, para cumprir o seu sétimo trabalho, Hércules enfrenta o animal mítico, representação do segundo signo do Zodíaco. No entanto, atribuímos quase sempre a este signo as qualidades de força contida, de sensualidade, de aspiração a viver em harmonia com a natureza, de vida tranquila, saudável, serena e simples.
Sem dúvida que o astrólogo sabe que os arrebatamentos do nativo de Touro podem revelar-se temíveis. Todavia, trata-se de um ser mais rancoroso do que violento. Por outro lado, a sua necessidade de segurança e de conforto material leva-o à conservação, não à destruição. Com efeito, não esqueçamos que, em correspondência com os ciclos da natureza, o período do ano durante o qual o Sol atravessa o signo de Touro é o da reprodução e da procriação. Por isso, não podemos evitar ver na representação deste touro vingador, destruidor, que lança chamas pelo nariz, características próprias do signo oposto a Touro - Escorpião -, visto que embora este sétimo trabalho cumprido por Hércules esteja em analogia com o signo de Touro, não é por acaso que faz alusão às forças destruidoras do instinto desbragado, aos ímpetos da própria vida de Touro... que também são ímpetos de morte que se atribuem ao signo de Escorpião. Devemos compreender que, na realidade, estes ímpetos de vida e de morte são uma e a mesma coisa. Formam um todo que produz a vida. Podemos entendê-lo observando o bater constante do coração humano, que se contrai e vive, se relaxa e morre, aproximadamente 66 vezes por minuto. Assim, sem nos apercebermos, todos nós vivemos e morremos 66 vezes por minuto. Estas sístoles e diástoles que dão ritmo aos batimentos do nosso coração bombeiam o sangue e regeneram-no. Esta maravilhosa mecânica orgânica entra em relação com os instintos da vida e da morte e, consequentemente, com o eixo Touro-Escorpião do Zodíaco. Ora bem, o que nos diz a lenda do sétimo trabalho de Hércules? Revela-nos que Minos se apoderou do presente que Poseidon lhe tinha dado e que aquele tinha prometido sacrificar. Mas, em vez de o fazer, deslumbrado com a sua beleza e a sua força, optou por enganar Poseidon e conservar este fabuloso animal forjado pelo mar original, como Vénus. Ao fazê-lo, Minos cedeu aos instintos de conservação. Cedeu perante as fraquezas atribuídas ao signo de Touro: posse, egoísmo, imobilidade. Mas, embora pareça um paradoxo, a vida não pode existir, durar e seguir o seu curso normal, se não morrer, se num dado momento não se interromper para se regenerar e renascer em si mesma. É este o sentido de sacrifício do touro sagrado na Antiguidade, representado nos rituais dedicados a Dioniso, deus da videira e do vinho, ambos em analogia com o sangue. Igualmente, o mito de Jesus foi comparado muitas vezes com o de Dioniso, no sentido de que, tanto a um como a outro, foi exigido um sacrifício último.
Além disso, segundo eles, a vida e a morte confundem-se e, por último, o vinho simboliza o sangue ou a vida que morre e se regenera. Porém, a morte obtida por um sacrifício não se retém. É uma etapa necessária, uma necessidade vital.
Não se trata da morte, tal como a entendemos normalmente, ou seja, o final da existência humana. Enquanto a vida desviada do seu curso normal, retida, conservada, imobilizada, possuída de forma egoísta, morre definitivamente, pelo simples facto de que de que já não tem nenhuma possibilidade de se regenerar. É esta a falta que Minos comete, ao guardar para si o touro nascido do universo mítico de Poseidon, o mar, as águas originais de onde nasce a vida. Foi esta a falta que Minos cometeu e que Hércules reparou, combatendo e dominando o touro de Creta apenas com as mãos.
2 comentários:
Essa analogia foi deveras interessante, ate porque faz alusao a um singno que pude perceber na pele , qualidades e defeitos, e tambem por faz um paralelo muito interessante com meu signo.
E tem tudo haver, essa dualidade vida e morte tanto na lenda como nessa dupla forte ai.
Engraçado que o touro sendo maior em especie é mais retraido que o perigoso escorpiao.Mas em certos casos ambos trocam de papeis.
Beijos!
Sei muito bem do que fala porque eu sou Touro.
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