14 de dezembro de 2009

12º Trabalho - A captura do cão Cerbero e o signo de Escorpião

Foi sem dúvida o mais perigoso dos trabalhos de Hércules e a sua mais extraordinária proeza. Com efeito, foi encarregado de ir aos Infernos, reino de Hades, para capturar o cão Cerbero. Todavia, não era qualquer homem vivo, mesmo que fosse um semideus, como era o caso de Hércules, que entrava no reino dos mortos impunemente. O nosso herói teve de submeter-se aos Mistérios de Elêusis, aos quais, naqueles tempos e segundo a lenda, apenas os Atenienses tinham acesso. Aquele que se iniciasse nestes mistérios seria capaz de entrar no outro mundo e sair dele vivo..
Para assistir a estes mistérios, Hércules teve de ser purificado, visto que ninguém que tivesse sangue nas mãos podia participar em tal cerimónia. Estes famosos mistérios, que tinham lugar em Elêusis - um porto da Grécia situado a noroeste de Atenas -, consistiam para o iniciado em reviver a vida e a morte de Dioniso, cujo nome significa "o deus coxo", mas também chamado "o deus duas vezes nascido". Ora, este deus foi considerado um libertador da Morte e dos Infernos, já que a lenda mítica relacionada com ele conta que libertou do reino de Hades a sua mãe, Sémele, que morreu fulminada pelo raio de Zeus, o seu marido, enquanto o desafiava mostrando toda a sua força. Assim, uma vez iniciado nos Mistérios de Elêusis, tal como Dioniso, Hércules já podia ir ao outro mundo sem temer pela sua vida. Isso já não é uma façanha mas um prodígio. Com a ajuda e a companhia de Atena e Hermes, Hércules empreendeu o caminho para os Infernos. Primeiro cruzou o Éstige, o rio que levava até ao Inferno, e depois penetrou no universo de Hades, o invisível.
Ao verem o nosso herói, os mortos entraram em pânico e fugiram. Apenas dois deles o esperaram. Em primeiro lugar foi Górgona Medusa, monstro e objecto de terror que congelava o sangue, com a sua cabeça rodeada de serpentes, os seus dentes de javali, as suas mãos de bronze, as suas asas de ouro e os seus olhos com um olhar tão penetrante, que quem se cruzava com ele ficava transformada em pedra.
Hércules estava prestes a atravessar Medusa com a sua espada quando Hermes o aconselhou a que não o fizesse, advertindo-o de que se tratava de uma sombra, uma ilusão, um fantasma. Depois, apareceu Meleagro, contra o qual Hércules estendeu o seu arco, disposto a atravessá-lo com uma flecha. Mas este herói grego limitou-se a contar-lhe a sua vida e, sobretudo, as circunstâncias trágicas da sua morte. Hércules emocionou-se tanto que lhe prometeu casar-se com a sua irmã, que ainda vivia, quando voltasse para os vivos. O nosso herói, como é de suspeitar passou por muitas mais aventuras e peripécias no reino dos mortos. Finalmente, encontrou-se com Hades, a quem explicou o objectivo da sua visita: capturar o cão Cerbero. Hades consentiu em aceder ao seu pedido, na condição de conseguir dominá-lo unicamente com as mãos, apenas revestido com sua couraça e sua túnica de pele de leão. Hércules agarrou o guardião dos Infernos pelo pescoço - visto que tinha três cabeças mas um só pescoço - e já não o soltou mais, até depois de um combate feroz e aterrador, durante o qual sofreu várias picadas do aguilhão de escorpião que o cão Cerbero tinha no extremo da sua cauda. Hércules saiu vitorioso.

Interpretação do décimo segundo trabalho e analogias com o signo de Escorpião
As alusões ao reino dos mortos e ao aguilhão que o cão Cerbero possui na cauda são símbolos evidentes que nos fazem pensar no oitavo signo do zodíaco, o qual quase sempre se compreende ou conhece mal, e que vemos tenebroso e negro, quando não pensamos que ele é maléfico. Porém, embora os elementos que constituem o pano de fundo do décimo segundo trabalho de Hércules sejam bem mais inquietantes, até mesmo angustiantes, a lenda que o conta está cheia de esperança e de vida. Não é por acaso que este é o último trabalho do semideus grego, visto que é a origem da sua maior vitória, uma vitória sobre a morte tal como a imaginamos e quase sempre a representamos, ou seja, tal como nos negamos a imaginá-la. Visto que a morte é algo que apenas acontece aos outros, claro. A nós não nos afecta. De maneira que toda a fantasmagoria em torno da morte e dos rituais aos quais nos submetemos quando a enfrentamos tornam-nos totalmente ignorantes do que é. Quem de nós pode arrogar-se não temer a morte? "Não temo a morte, mas o que me separa dela" escrevia Jacques Audiberti. Neste caso, tudo o que separa o reino dos mortos do dos vivos é o cão Cerbero, o guardião dos Infernos. Quem é o cão Cerbero, segundo a mitologia grega? O seu nome tem, sem dúvida, uma origem oriental e significa "demónio do abismo". O abismo, etimologicamente, é uma espécie de pleonasmo, já que para os Gregos significava "uma profundidade cujo fundo não se pode tocar". Agora, pensando bem, o que é que nos é dito com este pleonasmo, que é um puro exagero? Que o cão Cerbero, o demónio do abismo, é o guardião de algo que não existe, algo absurdo, algo que não tem nem sentido, nem fundo, nem fim. Mas se algo não tem fim, é algo que continua.
O que significa que o reino dos Mortos de Hades é pura ilusão, que se trata de um fantasma e nada mais, e que basta ser um iniciado - na lenda relativa ao décimo segundo trabalho, nos Mistérios de Elêusis - para poder sair incólume deste reino, do qual habitualmente não se regressa. Assim, da mesma maneira que a Medusa é uma sombra vã, tal como Hermes revela a Hércules, o reino dos mortos só existe na nossa imaginação. A própria morte não é outra coisa senão a ideia que fazemos dela. Os Infernos, aquele mundo onde os mortos estariam condenados a viver - ou, melhor dizendo, a não viver mais - eternamente, é uma impressão da mente. Passar do país dos vivos para o reino dos mortos, e depois voltar a sair para regressar para os vivos é uma imagem metafórica do grande princípio da regeneração própria do signo de Escorpião, cujo impulso é tanto de vida como de morte, de vida e de morte simultaneamente, representando este instante impensável onde a vida e a morte se tornam uma só, justamente para gerar uma nova vida. Ora, se a morte for parte da vida e nós amamos a vida, porquê ter medo da morte?
Hércules, ao compreender isto e cumprindo assim o seu último trabalho, pôde finalmente viver livre.

3 comentários:

AugustoCrowley disse...

Excelente relação, de fato ser regido pelo signo da vida e morte nao é facil, pq vivemos essa dualidade 24 horas.Beijos!

Olhos nas Estrelas disse...

Descobri este blog 'por acaso' e gostei do que li!

Também tenho um modesto cantinho online.
Fica em http://amor-para-recomecar.blogspot.com/

Um Abraço de Luz e que 2010 traga muita Paz e Serenidade
Yuna

AugustoCrowley disse...

Ficarei no aguardo, beijos!