Por uma vez o nosso lendário e mítico herói transformar-se-á em chefe guerreiro e, poderíamos dizê-lo, em almirante da Antiguidade. Visto que, para conquistar o cinturão da rainha Hipólita - o que teria feito sem verter uma única gota de sangue, se não se tivesse sentido traído pela que ostenta esse nome, como veremos -, Hércules fretou nove navios e embarcou com uma tropa de valentes voluntários. Com efeito, tratava-se de uma verdadeira expedição ao reino das amazonas, as míticas mulheres guerreiras, das quais tinha razões de sobra para temer. Mas comecemos a história do nono trabalho desde o princípio.
Desta vez foi a filha de Eristeu, Admete, cujo nome significa "a indomável", quem pediu a Hércules que fosse ao país das amazonas e roubasse o cinturão da sua rainha, Hipólita - nome que podemos traduzir literalmente como "cavalo desatado e solto" -, para depois lho levar. Ora, apresentar-se no país das "que não têm seio", ou seja, as amazonas, era uma aventura perigosa que poucos arriscavam. Mas claro que isso não fez recuar Hércules, consagrado à glória de Hera, "a protectora".
As amazonas, de quem se dizia serem filhas de Ares - o deus da guerra, Marte para os romanos - e de Náiade Harmonia - por sua vez filha de Ares e Afrodite -, nasceram, pois, de amores incestuosos entre Ares e sua filha. Viviam num país que os mitógrafos situam história e geograficamente no Cáucaso, ou então em Trácia, no nordeste da Grécia, ou em Escítia, nas planícies do Danúbio. Em todo o caso, eram totalmente autónomas, terríveis e temidas. Com efeito, ao não aceitar nenhuma presença masculina na sua comunidade, tinham a fama de mutilar os bebés masculinos ao nascer, cortavam-lhes os braços e as pernas e tiravam-lhes os olhos.
Apenas se uniam aos homens, a quem matavam em seguida, para satisfazer os seus amores carnais e procriadores de bebés do sexo feminino, a quem cortavam um peito para que assim as futuras amazonas pudessem manejar o arco e a flecha. Eram ferozes guerreiras e cavaleiras, armadas com arcos e com escudos em forma de meia luz. Todas usavam um capacete em pele de animal. A sua rainha, Hipólita, obtinha a sua força e o poder do seu cinturão.
Quando Hércules guiou a sua expedição para se apoderar do cinturão de Hipólita, as amazonas viviam nas margens do rio Thermodon. Ancorou no porto de Temiscira, na foz do rio. Hipólita adiantou-se-lhe e, conta a lenda que, seduzida pela sua força, os seus músculos e o seu carisma, lhe ofereceu o seu cinturão como prova do seu amor. Tudo podia ter terminado aqui se não fosse hera, disfarçada de amazona, ter difundido a notícia da traição da sua rainha entre as mulheres guerreiras. Estas, poucas de raiva, montaram os seus cavalos e iniciaram uma batalha de morte contra os homens que acompanhavam Hércules. Este último, achando-se por sua vez traído, matou Hipólita, de quem conservou o cinturão.
Interpretação do nono trabalho e analogias com o signo de Peixes
Se descobrirmos esta mítica lenda referente ao nono trabalho e pensarmos nas qualidades inerentes ao signo de Peixes, à priori não vemos muito bem qual pode ser a relação entre este cinturão, a rainha das amazonas e o último signo do Zodíaco. De facto, o vínculo é essencialmente o da emoção do amor puro, do qual pode nascer qualquer coisa, também emoções indomáveis que podem destruir tudo. O que a lenda não nos conta é que Admete, a indomável, era uma sacerdotisa de Hera, esposa de Zeus, o seu equivalente no Olimpo e, como tal, a deusa protectora das esposas. Consagrar-se à deusa das esposas pressupunha consagrar-se a um matrimónio decidido pelos deuses, tomado como a instituição mais sábia e mais normal. Estamos aqui no universo do que hoje em dia poderíamos chamar de matrimónio social ou de conveniência. Casamo-nos porque toda a gente o faz, para representar um papel social, procriar, entrar numa condição social, o que não exclui os sentimentos mas, possivelmente, despojados de toda a emoção.
Ora, as amazonas encarnam e representam completamente o oposto deste esquema social de segurança. São mulheres livres, guerreiras, impúdicas, ferozes, cruéis, que utilizam os homens para as suas necessidades, mas que não os amam e não querem ser amadas por eles. Em muitos pontos, são as caricaturas dos homens que elas mesmas recusam na sua vida, precisamente porque, também elas, mataram as suas próprias emoções. Assim, ser sacerdotisa de Hera ou amazona é o mesmo. Tanto num caso como noutro, a emoção é a que sofre ou se anula.
E o que escandaliza e rebela Hera - que chega inclusive a trair Hércules e, por isso, é a causa da verdadeira carnificina, pois o nosso herói teria podido cumprir o seu nono trabalho como quem não quer a coisa -, é que Hipólita, a selvagem e indomável amazona, seja capaz de amar. Visto que, não nos enganemos, embora a lenda passe por alto neste detalhe, tem a sua importância porque, ao entregar o seu cinturão a Hércules como prova do seu amor, Hipólita une-se a ele no sentido mais puro, mais profundo e mais verdadeiro. Trata-se de uma autêntica fusão carnal e espiritual entre o homem e a mulher; o homem, neste caso Hércules, encarnando a força da consciência dominada, e Hipólita encarnando o poder fecundador da emoção controlada. É um encontro, no mais alto, entre os princípios solar e lunar, sendo as amazonas, como podemos supor, mulheres-lua. Aliás, o cavalgar aterrador das amazonas representa o movimento circular das ondas e o desencadeamento das emoções desatadas, primitivas, que tudo destroem à sua passagem, do qual podem ser vítimas os nativos de Peixes, visto que aspiram ao amor fusão carnal e espiritual. Nadam na emoção, na receptividade. As suas múltiplas e contraditórias impressões são muitas vezes ofuscantes e inibidoras, outras são clarividentes e fecundas. De um modo absoluto, desejam juntar, unir e unificar todas as emoções e forças deste mundo, união simbolizada pelo cinturão de Hipólita.
1 comentário:
A lua de fato exerce um poder muito forte sobre as pessoas, imagino aos nativos de peixes.
Fantasia, medo, ciume, ilusao, nossa, muitas fases em uma pessoa só.
Adorei testo.
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