A pergunta é: éguas ou garanhões? Isto é o que teremos a ocasião de nos interrogarmos em relação ao oitavo trabalho de Hércules e suas analogias com o signo de Sagitário. Com efeito, segundo as duas lendas míticas que relatam esta façanha cumprida pelo nosso herói, mas também segundo as interpretações que os mitógrafos fazem dela, tanto poderia tratar-se de éguas como de garanhões. Em todo o caso, lenda e mitógrafos estão de acordo que, éguas ou garanhões, trata-se de quatro cavalos selvagens, cujos nomes hoje em dia continuam a ser conhecidos: Podargo ou o "Pé Brilhante", Lâmpon ou o "Resplendor". Janto ou o "Amarelo" e Deino ou o "Terrível". Pertenciam a Diómedes - cujo nome significa "hábil como um deus" -, rei da Trácia, região situada entre o Danúbio, o mar Negro e o mar Egeu e que foi colonizada pelos Gregos no século VII antes da nossa era. As raízes indo-europeias dos povos que, desde o II milénio antes de Cristo, se estabeleceram nesta magnífica região rica em madeira, ouro e prata são evidentes. Por isso, entende-se a razão pela qual os Gregos a ocuparam, e já veremos que isto tem a sua importância na interpretação que faremos desta lenda mítica, com Trácia como pano de fundo.
O rei da Trácia, Diómedes, era filho de Ares, o deus da guerra, a quem os Romanos chamaram Marte, e de Cerne, chamada a "Perita em Arreios", mas também a "Rainha Soberana", uma ninfa tessalónica. Outra lenda apresenta-a como uma deusa caçadora que lutou apenas com as suas mãos com um leão que acabou por domar, foi seduzida por Apolo e teve dele outro filho, Aristeu, que depois se converteu em rei da Líbia. Como vemos, ao longo dos séculos, as lendas míticas entrecruzam-se muitas vezes e misturam-se.
Voltemos a Diómedes, rei trácio, cujas cavalariças semeavam terror. Com efeito, as suas quatro éguas - ou garanhões -, atadas por correntes de ferro aos seus bebedouros de bronze, tinham a particularidade de serem carnívoras, e Diómedes alimentava-as com carne humana. De maneira que Hércules foi encarregado de capturar os quatro cavalos, o que fez com a valentia, a força e o talento que o caracterizavam. Chegou à Trácia completamente sozinho, apresentou-se diante de Diómedes, a quem matou com a sua famosa moca, e arrastou o seu corpo inerte até à margem de um grande lago artificial que ele mesmo tinha construído, fazendo um túnel entre as terras baixas e o mar e entregou-o aos quatro cavalos selvagens e carnívoros que, entretanto tinha libertado e instalado sobre um outeiro rodeado pelas águas do lago. Uma vez alimentados com a carne do rei da Trácia, os cavalos, cuja voracidade se tinha acalmado, puderam ser capturados docilmente por Hércules, que cumpriu assim vitoriosamente o seu oitavo trabalho.
Interpretação do oitavo trabalho e analogias com o signo de Sagitário
Por se encontrar na presença de quatro cavalos selvagens, o vínculo com o signo de Sagitário, representado simbolicamente por um centauro, isto é, um ser monstruoso, cujo busto, braços e cabeça são de um homem, e cujo corpo e patas são as de um cavalo, é fácil de compreender. Porém, a pergunta é se aparece algum centauro nesta lenda. Uma das particularidades do centauro é justamente a de se alimentar de carne humana. Daí que possamos deduzir que as quatro éguas ou garanhões de Diómedes eram centauros encobertos.
Mas afinal trata-se mesmo de quatro éguas ou de quatro garanhões? Na realidade, segundo as qualidades inerentes ao signo de Sagitário, vamos ver que se trata tanto de éguas como de garanhões, mas no estado mais selvagem imaginável. Com efeito, este signo, como indica a dupla natureza humana e animal do centauro mítico que o representa, entra ao mesmo tempo em relação com as camadas mais profundas, primárias e primitivas da natureza terrestre e com as zonas mais elevadas, superiores e espirituais do mundo celeste. Mas tanto num caso como noutro, quando as fortes energias, ao mesmo tempo primitivas e divinas, que o homem tem dentro de si não se dominam, não se canalizam, não se controlam para um determinado propósito, numa determinada direcção, indicada pela seta que aponta o centauro que representa Sagitário, o homem afunda-se quer nos excessos de sensualidade, no desenfreamento e na morte física, quer nos da celebridade, da intelectualidade e do saber estéreis. Visto que o saber, que muitas vezes tem algo de sentencioso, não é o conhecimento generoso, aberto e benévolo que conduz à sabedoria. A prova está em que ao signo de Sagitário são atribuídas qualidades de expansionismo, colonialismo, ao mesmo tempo que boas intenções, acerca das quais um provérbio diz, de que o inferno está cheio.
Assim, compreendemos melhor porque é que o cenário do oitavo trabalho de Hércules se situa na Trácia, região colonizada pelos Gregos, que ansiaram pelas suas riquezas naturais. O nativo de Sagitário, tal como o centauro, tem por missão unificar a sua cabeça com o seu corpo, o seu espírito com a sua carne, o seu componente masculino e cerebral, por um lado, e o seu componente feminino e instintivo, por outro. Mas quase sempre é vítima da sua actividade cerebral que domina a sua natureza selvagem e indomável, incitando-o depois a jogar a sua vida mais do que vivê-la, ou então sofre um frenesim dos sentidos e dos instintos que o tornam selvagem e indomável, incapaz de se dominar e de se conter. Eis porque a dúvida surge em redor do sexo dos quatro cavalos de Diómedes que são, efectivamente, tanto éguas de instinto descontrolado, como garanhões de loucura cerebral, embora também possam ser os cavalos do espírito e do corpo unificados.
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