Segundo uma lenda mítica, o famoso jardim das Hespérides, símbolo da fecundidade, não era outro senão o jardim de Hera, mãe de Hércules, irmã de Zeus, no qual ela colocou ou plantou as maçãs de ouro, que Gea, personificação da Terra, lhe ofereceu como presente de casamento pela sua união com Zeus.
Quanto às Hespérides, cujo nome significa ninfas do Ocidente ou do Poente ou do Anoitecer, eram três deusas, efectivamente filhas da Noite, cuja função essencial consistia em vigiar o famoso jardim de Hera, mas, sobretudo, as maçãs de ouro. A primeira chamava-se Egle ("luz cega"), a segunda Eritia ("vermelha") e a terceira Hesperaretusa ("a noite violenta"), isto é, três nomes que descreviam o percurso do Sol desde que nasce até que se pões. Eram filhas de Atlante, chamado "o que suporta", o gigante que foi condenado por Zeus a levar sobre os seus ombros, não apenas o globo terrestre como erradamente se pensa, mas a abóbada celeste, por se ter revoltado contra os deuses do Olimpo. Em relação a Atlante, que teremos a ocasião de ver no momento em que Hércules vai cumprir este décimo primeiro trabalho, assinalaremos agora que as lendas gregas fizeram dele o rei da mítica Antárctida e o primeiro astrónomo que ensinou aos homens as leis do Céu. Mas, voltando às três Ninfas da Noite, que tinham como missão vigiar as maçãs de ouro oferecidas por Gea a Hera, diz a lenda que um dia Hera se deu conta de que as Hespérides lhe roubavam as suas preciosas maçãs. Para impedir que tocassem nos frutos excepcionais desta árvore, fez enrolar em volta do tronco uma serpente dragão, Ládon, cuja vigilância protegeria a macieira mágica. Este monstro tinha cem cabeças e sabia falar todas as línguas da Terra.
Hércules foi encarregado de roubar e trazer as maçãs da fecundidade. Para o conseguir, claro, teve de realizar uma grande viagem. No caminho, cruzou-se com Prometeu, a quem, atravessando com uma flecha a águia que lhe devorava o fígado, livrou desse castigo infligido por Zeus, por ter roubado a chispa de fogo da roda de Hélios, o Sol. Prometeu, chamado "o Prudente", aconselhou então Hércules a não colher ele próprio as maçãs de ouro, mas que utilizasse Atlante para o fazer. Às portas do jardim das Hespérides, Hércules propôs, então, a Atlante segurar na sua carga, isto é, colocar sobre a cabeça a abóbada celeste, enquanto ele, em troca, ia apanhar as maçãs. Mas o gigante Atlante, temendo a serpente dragão Ládon, não se atreveu a aproximar-se da árvore. Então, Hércules com uma só flecha, atravessou as cem cabeças do monstro, que morreu nesse mesmo instante. Mais tarde, Hera poria nos céus os despojos mortais deste ser monstruoso que se converteria na constelação do Dragão.
Outra tradição assegura que depois de ter morto Ládon, e enquanto Hércules suportava a abóbada celeste de Atlante, o gigante foi a jardim de Hera, fez com que as suas três filhas, as Hespérides, apanhassem três maças de ouro, que ele mesmo levou a Hércules, já que este tinha tido a gentileza de segurar na sua carga. Porém, o nosso herói, que tinha sido advertido por Prometeu para não se deixar enganar por Atlante (desejoso de ser libertar definitivamente do seu peso), rogou ao gigante que retomasse a sua abóbada celeste durante um instante, só o tempo de ele colocar uma almofada na cabeça.
Então, apoderou-se das maçãs que Atlante tinha deixado no chão e desapareceu com elas, deixando de novo a carga do gigante, que tinha acreditado ingenuamente no que Hércules lhe dissera.
Interpretação do décimo primeiro trabalho e analogias com o signo de Gémeos
Uma das mais flagrantes analogias das que participam nesta lenda mítica e o signo de Gémeos é o símbolo da fecundidade, da energia primordial, representada aqui pela serpente dragão que se enrola em volta da árvore e que é uma representação do famoso caduceu, atributo de Hermes-Mercúrio, regente indiscutível do signo de Gémeos, o astro deus que governa este signo. Claro que não podemos deixar de pensar também no não menos famoso jardim do Éden, onde se encontrava uma árvore idêntica, isto é, uma macieira, também guardada por uma serpente. Todavia, na lenda bíblica, Eva, que poderia ser muito bem qualquer uma das três Hespérides, deixa-se seduzir pela serpente, ao passo que na lenda que nos interessa agora Ládon se enrola à volta de uma árvore para obedecer a Hera, de modo que as Ninfas da Noite não possam roubar as maçãs.
Tudo leva a supor que as fontes de inspiração destas duas lendas, a grega e a bíblica, têm a mesma origem e provêm, simplesmente, de duas interpretações diferentes. Mas, finalmente, o seu sentido é idêntico. Com efeito, tanto num caso como noutro, trata-se de uma representação simbólica da inteligência ou da mente, unidas ao instinto primordial.
De maneira que a árvore é o homem; a serpente dragão o seu eixo vertebral, é a energia primordial que circula nele, e as maçãs de ouro são os frutos do conhecimento que possui desde sempre - pois os seus frutos do conhecimento já existiam na árvore antes da serpente dragão se enrolar à sua volta -, mas de que não está consciente enquanto não tiver a revelação. Esta revelação é a que Hércules obtém levando a cabo este décimo primeiro trabalho.
Com efeito, mata a serpente dragão que tem cem cabeças e fala todas as línguas da Terra. Dito de outra forma, tal como a mente, esta serpente pode aprender tudo, ouvir tudo, compreender e saber tudo. Mas desde que saibamos o que queríamos saber graças a ela, já não precisamos dela. Hércules pode até matar a serpente dragão da mente ou do intelecto, da qual sabemos também que quando toma o poder passa a ser, como se costuma dizer, o peixe que morde o rabo, as ideias que dão voltas e tornam estéril o espírito. Recordemos que o que Hércules tinha ido buscar eram os frutos do conhecimento. E se, por astúcia, se serve dos favores de Atlante para o fazer é porque o conhecimento e a verdade dão-se muitas vezes mais ao que mostra inocência, candura e pureza nas suas intenções, do que àqueles cujos móbeis são o ter, o saber e o poder.
1 comentário:
Surpresa chegar até aqui! Fui estudiosa da mitologia greco-latina em um projeto do CNPq pela Universidade Federal da Paraíba (Brasil) por mais de dois anos e até hoje não consigo me separar dela. Neste sábado vi um programa no History Channel sobre os Doze Trabalhos de Hércules e minha imaginação foi lonnnnnnge. Desde então estou com meus livros sobre esta mitologia fascinante de um lado para o outro. Agora, vim pesquisar mais alguma coisa na internet e cheguei aqui. Muito bom o seu trabalho! Parabéns!
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