Vejamos como Hércules com a ajuda de Hélio (o Sol) e Okeanos (o Oceano), que teve de vencer antes de se tornarem seus aliados, levou a cabo o seu décimo trabalho.
Gerion um gigante monstruoso que tinha três cabeças e três corpos, neto de Posídon e Calírroe - cujo nome significa "que flui agradavelmente" -, filha, por sua vez, de Okeanos ou Oceano, era rei de Tartesos, em Espanha, antiga cidade que se situava na actual Andaluzia e que foi destruída pelos Fenícios no ano 500 antes da nossa era. Assim, Gerion, chamado "o corvo", tinha fama de ser o homem mais forte da Terra. Possuía uma manada de bois, admirados pela sua beleza, e toda a gente os invejava. Euristeu recorreu a Hércules para se apoderar deles.
Para guardar a sua magnífica e valiosa manada, Gerion tinha procurado os serviços de um boieiro, Êurito - filho de Ares, o deus da guerra -, e de um cão com duas cabeças, Ortro, irmão do cão Cérbero, o cão de Hades, guardião do império dos mortos. Para desempenhar este trabalho, Hércules devia cruzar o mar, isto é, vencer Okeanos, filho de Urano, o deus do Céu, e de Gaya, divindade que personificava a Terra, que segundo uma lenda mítica grega, representava as água originais, o grande rio universal sem manancial nem final.
Ora, o único meio de prevalecer sobre Okeanos era apropriar-se da taça de Hélio, o Sol, que, claro, não o ia admitir, e assim, lançou os seus raios mortais sobre Hércules, enquanto este cruzava solitário, o deserto da Líbia sob um calor abrasador.
Furioso, o nosso lendário herói, parou no meio do deserto, pegou no arco e lançou flechas em direcção a Hélio. Este ordenou a Hércules que parasse e, assim feito, pediu desculpas. Para lhe demonstrar que não sentia nenhum rancor e selar um acordo, Hélio ofereceu-lhe a taça de ouro que Hércules necessitava para vencer Okeanos. Tinha forma de nenúfar e flutuava na água.
Hércules pôde levá-la para chegar à ilha de Eritia. Mas Okeanos fez mexer as ondas com tanta força, que a taça de ouro quase se virou e Hércules esteve em risco de se afogar. Outra vez furioso, pegou no arco e lançou flechas sobre o Titã dos mares que, assustado, parou as ondas. Foi assim que Hércules conseguiu chegar a bom porto; mas, mal pôs o pé na ilha, foi agredido por Ortro, que matou imediatamente com a sua massa. Êurito, o pastor da manada de Gerion, que correu a ajudar o seu cão, sofreu exactamente a mesma sorte. Assim, Hércules apoderou-se da manada de bois e apressou-se a levá-la consigo. Todavia, Gerion que tinha descoberto a intrusão de Hércules, desafiou-o para uma luta singular. Mas, como é de supor, o nosso herói conseguiu vencê-lo lançando-lhe uma flecha fatal que trespassou ou seus três corpos de uma só vez.
Interpretação do décimo trabalho e analogias com o signo de Carneiro
O que salta à vista quando descobrimos esta lenda mítica que nos narra a décima façanha deste personagem, que lhe estamos a mostrar sob outro ponto de vista, é que, de início, antes até de tentar apoderar-se da manada de Gerion, tem de vencer o Sol e o Oceano, isto é, a representação simbólica dos dois elementos primordiais: o Fogo e a Água. Também devemos fixar-nos atentamente que, embora estejamos diante de uma manada de bois e não de cordeiros como seria de esperar em relação ao signo de Carneiro, nos encontramos em presença do pastor e do seu cão.
Sabemos que no Zodíaco, o último signo é um signo de Água. Trata-se do signo de Peixes que, em analogia com a natureza e as estações, corresponde ao período em que as águas se precipitam, em que as fontes, os afluentes e os rios crescem e por vezes transbordam. É um período do ano que precede o equinócio da Primavera, o instante celeste durante o qual entramos na Primavera, evidentemente, e no signo Carneiro, o primeiro signo do Zodíaco mas, sobretudo, em que os dias serão mais longos do que as noites, em que o Fogo dominará.
Por isso, podemos considerar que, ao chegar à ilha de Eritia, Hércules atravessou as duas etapas. Recebe de Hélio (o Sol, o Fogo) uma taça de ouro que lhe permite vencer Okeanos (o Oceano, a Água). Simbolicamente, isto pode significar que para vencer os problemas emocionais que nos podem paralisar e conduzir à confusão total, ou afogar-nos - Okeanos remexe as ondas para virar a taça de ouro em forma de nenúfar, de Hércules - há que utilizar a cabeça, as energias activas, o ardor, a sua chama interior, todas estas qualidades próprias do signo de Carneiro.
Ora, se nos recordarmos, Gerion é neto de Posidon, o rei do mar, e o bisneto de Okeanos, o Oceano. Vinha de uma família dominada pela Água.
Daí, que, se Hércules deve arrebatar-lhe a sua manada, composta, como já dissemos, de magníficos bois, o gigante, pelo simples facto de possuir três cabeças e três corpos (isto é, um corpo, um espírito e uma alma divididos e não unificados), submergido em emoções hereditárias, para dizê-lo de outra forma, não está em condições de apreciá-lo, nem de o fazer evoluir. A esse respeito, sabemos que não existe uma grande diferença entre os bois e os cordeiros pois ambos se deixam guiar facilmente porque são fracos e submissos.
Mas é totalmente diferente de transformar um boi ou um cordeiro em carneiro, isto é, dar-lhe a possibilidade de ser o seu próprio pastor, o seu próprio guia, de afirmar-se enquanto indivíduo, dos pés à cabeça. O mesmo acontece com a planta que surge da terra ou de um rebento que se abre no princípio da Primavera, quando o Sol transita pelo signo de Carneiro: separa-se bruscamente do seu passado. Ao apoderar-se da manada de Gerion, o que Hércules alcança é a conquista da sua individualidade.
1 comentário:
A cada postagem uma bagagem sem igual,adorando, bom sabado!
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