Decidimos seguir a ordem dos doze trabalhos de Hércules tal como aparecem na lenda dos 12 Trabalhos, em vez de o fazer cronologicamente e no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio, que é, evidentemente, o dos doze signos do Zodíaco. Deste modo compreenderemos melhor o percurso iniciático que representa este ciclo mítico e as valiosas informações que cada um de nós pode obter dele por si mesmo, lançando-se no universo do Zodíaco e dos astros.
O primeiro trabalho que Hércules teve de cumprir foi matar e esfolar o leão de Nemeia, "um animal gigantesco com uma pele impossível de atravessar, nem com ferro nem com bronze, nem com pedra. Segundo alguns, o leão tinha nascido de Tifon (demónio nascido de dois ovos que Cronos ofereceu a Gea para se vingar de Zeus, o qual tinha morto os seus filhos, os Titãs), segundo outros de Quimera (animal fabuloso e aterrador, meio cabra, meio leão, meio serpente, filha de Tifon) e do cão de Ortro (também filho de Tifon, do qual algumas lendas rezam que era pai da Esfinge de Tebas); segundo outros, ainda, Selene (ou a Lua, filha de Hélios, o Sol) tremeu de horror ao trazê-lo ao mundo e deixou-o cair ao chão sobre o monte de Tretos, próximo de Nemeia, ao lado de um gruta de dupla entrada; e, para castigar o seu povo por não ter feito um sacrifício, fez com que o leão devorasse todos os seus habitantes.
Hércules chegou a Nemeia ao meio-dia, mas, como o leão tinha despovoado todos os arredores, não encontrou ninguém que o informasse e, além do mais, não viu nenhum vestígio de animal.
Hércules foi ao monte de Tretos e ali avistou o leão que voltava ao seu covil, todo manchado de sangue da sua última vítima. Lançou flechas ao animal, mas fizeram ricochete na sua densa pele sem o ferir, e o leão limitou-se a lamber as costelas enquanto bocejava. Em seguida, utilizou a sua espada, que se dobrou como se fosse de lata, e finalmente, puxou da sua clava e acertou um golpe tão forte sobre a cabeça do leão que este entrou no seu covil de dupla saída sacudindo a cabeça, não de dor mas porque os ouvidos zumbiam. Hércules, depois de olhar tristemente para a sua clava já inutilizada, dispôs uma rede numa das saídas do covil e entrou pela outra.
Sabendo já que nenhuma arma serviria contra o monstro, agarrou-o com os braços e iniciou uma luta corpo a corpo. O leão arrancou-lhe um dedo mas Hércules já lhe tinha agarrado a cabeça e, num último esforço, apertou-lha com tanta violência que sufocou o animal.
Durante um certo tempo, Hércules viu-se numa situação embaraçosa porque não sabia como esfolar o leão, até que, por inspiração divina, lhe veio a ideia de utilizar as próprias garras do animal, afiadas como uma navalha, e rapidamente pôde cobrir-se com a sua invulnerável pele e fazer um escudo, utilizando a cabeça do leão como capacete. Assim relatou o escritor Robert Graves a luta de Hércules contra o leão.
Interpretação do primeiro trabalho e analogias com o signo de Leão
Vamos revelar os principais símbolos que existem em torno da história deste primeiro trabalho, procurar os seus significados e, depois, concentrarmo-nos na lição que todos podemos tirar dela, sobretudo os nativos de Leão ou para quem este signo tenha uma grande importância no seu mapa astral. Depois, faremos o mesmo com os restantes onze trabalhos em relação com os restantes onze signos do Zodíaco.
Quem é Tifon? É um monstro mitológico, nascido da cólera de Hera (recorde-se que Hércules significa"glória de Hera"). Tem aparência humana, mas os seus dedos são cabeças de dragão e a parte inferior do seu corpo, desde a cintura até aos tornozelos, está rodeada de serpentes. Tem asas e os seus olhos despedem chamas. É de uma altura gigantesca, o seu corpo pode cobrir metade da Terra.
Simboliza os impulsos instintivos irreprimíveis, destruidores, a violência emocional que devasta tudo à sua passagem. O famoso leão de Nemeia é filho de Tifon. Dito de outra forma, foi gerado pelas forças instintivas descontroladas, comparáveis aos fenómenos da natureza e aos efeitos dos cataclismos, os quais ninguém consegue fazer parar.
O regente do signo de Leão é o Sol, que representa a vontade instintiva do indivíduo no mapa astral. O signo de Leão é o lugar onde a vontade do homem (que revela o seu livre arbítrio) pode tomar as forças instintivas, descontroladas, imprevisíveis, respondendo às suas necessidades vitais, as leis da mãe natureza que cria e destrói, dá e tira, gera e regenera permanentemente, leis que são também as do destino.
O leão devora todos os habitantes da região de Nemeia, pois estes não fizeram um sacrifício. Simbolicamente, este facto - causa do drama que ocorre nesta lenda - tem um sentido concreto: não se deve deixar de fazer sacrifícios às forças instintivas, impetuosas, emocionais que cada um de nós tem dentro de si, porque senão corremos o risco de se virarem contra nós, mais cedo ou mais tarde, e ainda mais fortes e mais violentas. Não podemos viver sem elas porque são vitais.
Hércules não encontra ninguém para perguntar onde se encontra o leão. Se rejeitarmos ou inibirmos estas forças instintivas, não só seremos suas vítimas, como nos confundirão. Já não saberemos onde se escondem. Podem surpreender-nos, devorar-nos ou destruir-nos em qualquer momento.
Isto é o que acontece com os orgulhosos e as atitudes tirânicas para as quais o nativo de Leão pode propender.
Hércules surpreende finalmente o Leão mas não consegue vencê-lo com as suas armas: arco, espada, clava. Acaba por estrangulá-lo numa luta corpo a corpo em que mata o animal. As armas são evidentemente, os atributos dos guerreiros e sempre foram consideradas, simbolicamente, como os instrumentos do espírito e do intelecto. Sem dúvida porque, graças à sua inteligência, o homem as criou. O arco e as flechas representam as ideias, a espada representa as escolhas, as decisões, a justiça, e a clava, o poder do conhecimento. Por isso, não é empregando estas armas, frutos do espírito, que o homem pode vencer as forças instintivas irreprimíveis e violentas que tem dentro dele. Mas confundindo-se com elas, lutando corpo a corpo, utilizando as suas próprias armas. Agarrando o leão de Nemeia com os seus próprios braços, Hércules oprime-o. Exerce o seu domínio, a sua própria força contra ele. É assim que o vence.
Encontramo-nos na presença de um símbolo idêntico ao representado no XI arcano maior do Tarot, a Força. É o princípio supremo a que todo o nativo de Leão pode aceder ou o que pode aprender com o seu signo: unicamente a firmeza de espírito criadora pode vencer a força destruidora.
Uma inspiração divina dita a Hércules que utilize as próprias garras do leão para o esfolar, com o fim de se cobrir com a sua pele invulnerável e fazer um capacete com a sua cabeça. Uma vez vencidas as forças instintivas e os impulsos, então pode utilizar as suas próprias armas contra as mesmas para as despojar de tudo o que as torne vulneráveis. Com a sua cabeça faz um capacete, símbolo de invulnerabilidade, mas também de invisibilidade. Neste ponto, o homem converteu-se no senhor dos seus instintos, mas também do seu destino, pode expressar o seu livre arbítrio, isto é, a sua vida instintiva, sem medo de ser importunado, invadido, submergido, ofuscado, devorado ou destruído pelo poder da sua grande deusa Terra, a mãe natureza, visto que cobriu a sua pele, pelo que se parece com ela sendo ele mesmo.
3 comentários:
Estava fazendo a relação no inicio do texto com o arcano 11,e você sabiamente fez a co-relação.
Isso prova que temos varios instrumentos de autoconhecimento a nossa disposição, basta que quebremos a barreira, e tenhamos a coragem de nos olharmos no espelho.
Amei o texto,parabéns e boa semana!
Muito obrigada pelo seu comentário.
Estava procurando um comentário sobre a Hidra de Lerna e para minha felicidade encontrei o teu Blog, que, além de responder à minha procura, trouxe-me respostas completas sobre OS 12 TRABALHOS DE HÉRCULES, interpretados à luz do ZODÍACO. Muito agradecido. Rio de Janeiro, 23/10/2011. (jmmunizs@gmail.com)
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