13 de março de 2009

XIII - Morte

Hoje parece-me o dia indicado para falar do Arcano Maior que tem o número 13, num dia 13, sexta feira.
Esta carta que aqui apresento pertence ao Tarot Comparativo de Valerie Sim publicado por Lo Scarabeo em 2003.
No Tarot de Marselha, esta carta não tem nenhum nome escrito e há mesmo baralhos em que esta carta é denominada por "Arcano sem Nome".
Há uma mensagem transmitida por esta carta que se torna bem clara: A morte atinge a todos, realmente, tanto a reis como a plebeus. Daí os judeus enterrarem todos do mesmo modo, com uma mortalha branca e num caixão simples de pinho.
Ao contrário do que muita gente acredita, a carta da Morte representa o momento preciso em que desistimos de velhas máscaras e permitimos que a transformação se realize. É, portanto, um tempo de mudança, pode representar o medo da mudança.
No seu aspecto mais positivo podemos ver aqui, um afastamento de velhos hábitos de rigidez para que consiga surgir uma nova vida.
Negativamente há um medo anormal da morte física, um apego a velhos hábitos.
Exercício de Meditação: - Use este exercício quando estiver a precisar de eliminar alguma coisa da sua vida, as suas ideias, os seus pontos de vista, alguma actividade ou sentimento.
Escolha um sítio para fazer esta visualização onde se sinta confortável e inicie algumas inspirações para se sentir mais relaxado. Diante de si coloque a carta da Morte. Pode, se quiser, também acender uma vela branca. Permaneça durante uns minutos a olhar, atentamente para a carta. Feche os olhos, concentre-se na figura e nas energias que ela lhe pode activar. Lembre-se do que deseja eliminar na sua vida e, durante uns minutos, concentre-se na palavra "Transformação" ou eliminação". Repita-a mentalmente várias vezes. Visualize agora uma ilha. Esta ilha tem muitas árvores mas nela reina apenas um enorme silêncio; este silêncio transmite-lhe uma imensa paz.
À sua frente está a Morte. Apesar do seu aspecto, não sente medo ou receio. Ela traz consigo a foice da renovação. Não hesite e peça-lhe ajuda... fale do que pretende transformar ou eliminar na sua vida, entregue-lhe tudo o que guarda dentro de si.
Visualize agora diante de si um lugar nesse deserto onde estão várias portas bem grandes. A morte convida-o a fechar a porta que pretende, do outro lado está o que pretende eliminar. Feche-a para que depois a morte possa eliminar tudo com a sua foice. Muitas portas estão agora diante de si, basta abri-las. Sente-se agora mais leve e com mais energia.
Agradeça à morte e despeça-se dela. Concentre-se agora novamente na sua respiração, conte de três a um e abra os olhos.
NOTA: - Faça este exercício durante três dias seguidos.
Afirmações (conselhos) para a carta A Morte:- Permito que ocorram as transformações necessárias para o meu crescimento interior.
- Eu tenho o poder de mudar.
- Eu destruo os egos negativos.
- Eu sou a libertação.

12 de março de 2009

Lenda do sinal do céu

Esta imagem do Castelo de Alenquer foi recolhida na net.
Lendas de Portugal segundo Gentil Marques.
D Gualdim, na semiobscuridade da sua cela, encontrava-se em profunda meditação. O seu corpo recuperava da tensão em que tinha andado durante a difícil conquista de Lisboa. De joelhos em terra, com o seu rosto escondido nas mãos, o corpo levemente inclinado para a frente, parecia a verdadeira estátua da oração.
Mas, subitamente, os seus sentidos entraram em alerta. D. Gualdim estremeceu pois teve a sensação de que não estava só e, retirando as mão do rosto, ergueu-se lentamente, apercebendo-se, apesar da penumbra da presença da figura magra e alta do superior do convento.
O superior, numa voz baixa e pausada, elucidou:
- Perdoai irmão, não queria interromper as vossas orações mas... tenho algo de importante a dizer-vos.
- Falai sem receio. Estava apenas dando graças a Deus pela bênção deste silêncio depois do tremendo inferno que foi a conquista de Lisboa.
- A minha presença aqui deve-se a um desejo do nosso rei D. Afonso Henriques. O sangue ferve-lhe nas veias e quer sair de novo a campo.
- Quando precisa el-rei de mim?
- Amanhã ao romper do dia.
- Lá estarei com os meus homens.
E, silenciosamente, como chegar, o superior saiu da cela de D. Gualdim.
Só, este ficou um momento imóvel, olhando um ponto vago no espaço. Depois, os seus joelhos voltaram a roçar a terra, o seu busto esguio tornou a encurvar-se e as suas mãos, mais uma vez, cobriram o seu rosto, de olhar brilhante e feições vincadas.
Em volta, o silêncio continuou silêncio e a penumbra, penumbra.

No horizonte, uma nesga de luz impôs-se às trevas da noite. Madrugada fresca de S. João. Em massa ainda indefinida caminhava o exército lusitano. D. Afonso Henriques mandou fazer alto.
- Aproximai-vos D. Guadim!
- Dizei, Senhor.
- Vou deixar aqui o exército sob as ordens de D. Ordonho. Preciso, primeiramente de fazer um reconhecimento.
- Vós? - admirou-se o cavaleiro - Será perigoso! Ficai que eu me sentirei honrado se puder fazer esse reconhecimento em vosso lugar!
Franziu o rei as sobrancelhas espessas.
- Disse-vos que desejo fazer um reconhecimento. E não lego em ninguém esse meu desejo! Sairei do campo disfarçado e acompanhado apenas por vós, d: Gualdim...
- É grande a honra que me concedeis, Senhor! Tão grande como a responsabilidade de vos trazer, de novo, são e salvo.
- Nada temeis! Quero apenas chegar junto do castelo dos mouros antes que o sol rompa. Preciso de descer para Alcácer, e não quero deixar mal defendidas as nossas costas, com focos que poderão perder-nos. Este castelo terá de ser nosso. Mas preciso saber se chegou a hora de o tomar. Aprontai-vos e segui-me... Tenho pressa!

A areia ensaibrada rangeu sob o metal do calçado do rei português. D. Afonso Henriques olhava o castelo, sobranceiro e sereno. Tudo parecia calmo à volta.
- Parece até um castelo de mouros encantados! Não se vê ninguém...
- Custa a crer que nem tenham vigias!
- Quem sabe?
- Cuidado, Senhor! Descobri além um vulto a mover-se...
O rei de Portugal franziu as sobrancelhas, numa concentração, enquanto dizia como se falasse consigo próprio:
- Vim aqui para saber se a hora era propícia à conquista deste castelo. Mandai-me um sinal do Céu ó Deus Todo-Poderoso! Mandai-me um sinal!
D. Gualdim guardara silêncio. Mas vendo que o vulto corria agora direito a eles, preveniu:
- Descobriram-nos! Vão dar o alarme!
O rei semicerrou os olhos, numa tentativa de ver melhor na meia-luz da madrugada nascente.
- Reparai bem, D. Gualdim! O vulto que corre para nós... é o de um cão enorme!
O cavaleiro-monge concentro os seus sentidos nesse vulto que corria direito a eles e se distinguia já perfeitamente.
- Assim é, meu Senhor! Mas nunca vi um alão (nome que se dava antigamente aos cães de caça) tão forte e grande! Teremos de o matar antes que dê o alarme...
Já o cão se encaminhava em direcção ao rei de Portugal. D. Gualdim gritou quase ao mesmo tempo que puxava da espada:
- Cuidado, Senhor!
Mas D. Afonso Henriques suspendeu-lhe o gesto. O alão mal chegou junto do rei começara a lamber-lhe as mãos, dando saltos de imensa e estranha alegria. D. Afonso Henriques sorriu:
- Reparai, D. Gualdim: o alão rende-me vassalagem! Recebe-me como a um libertador, ou como se me conhecesse há muito... Deve ser este o sinal do Céu! O avanço das nossas tropas far-se-à imediatamente e o castelo será nosso. O alão o quer!
Como num eco, D. Gualdim repetiu:
- O alão quer!

E desta frase lendária que ficou para todos os tempos, resultou a conquista de mais uma praça e o nome da terra que hoje se chama Alenquer. Confirmando o que narra a lenda, as armas da vila de Alenquer são: em campo de prata, um cão grande, pardo, preso a uma árvore com grilhão de ouro.

9 de março de 2009

XII - Enforcado

Esta carta pertence ao baralho de Tarot Ancestral Path de Julie Cuccia-Wats publicado por US Games em 1996.
Quando se pensa na carta do Enforcado, vem-nos logo à ideia a sensação de imobilidade que pode ser vivida, por exemplo, durante uma doença (esta é uma situação que a carta pode representar). Jung dizia acerca desta carta "Ficar pendurado pode (...) até ser um hanging on positivo para avaliação que, por um lado, significa uma dificuldade aparentemente insuperável mas, por outro, representa uma situação única que requer o maior esforço, e através do qual a humanidade é chamada à acção"
Esta carta pode mostrar-nos uma longa fase que nos irá levar à necessidade de encontrar uma situação totalmente nova. Se reflectirmos tempo suficiente sobre um problema apenas a calma e essa reflexão paciente nos irá fazer entender onde errámos ou do que desistimos.
Com esta carta sentimo-nos presos a uma situação que não pode continuar e faz-nos ver a necessidade de mudar o nosso modo de pensar para conseguirmos compreender o que há-de mudar para que a situação se venha a resolver.
Os alquimistas pensavam que, para libertar a energia dos desejos e transformá-la em energia espiritual deviam colocar-se de cabeça para baixo pois assim a energia dos genitais era empurrada para o cérebro. Se repararmos numa carta do enforcado tradicional, a sua expressão é de paz e compreensão.
Podemos dizer assim que o Dependurado ou Enforcado representa portanto, espera, um sacrifício voluntário, provas que têm que ser ultrapassadas antes de se iniciar um novo ciclo. Eu achei genial a ideia de Julia Cuccia-Wats ao representar esta carta do modo como eu aqui a coloquei.
Não existe meditação para a carta do Enforcado porque ela é a própria meditação.
Afirmações: - Aceito que nem sempre atinjo os resultados que quero sem fazer sacrifícios, por isso uso de todas as minhas forças e energias.
- Eu sou vontade.
- Eu sei esperar o tempo certo.
- Eu conheço os meus limites e aceito-os.